Quando eu era pequeno, minha mãe me dizia que eu era sonso. Com isso, ela queria dizer que eu era lento, bobo. Passei décadas supondo que esse era o sentido do vocábulo “sonso”. Num dia, enquanto eu estava folheando um velho dicionário em busca de uma palavra, meus olhos se deparam com a palavra “sonso”. O significado dela me surpreendeu: “Que ou aquele que finge não ter defeitos ou se faz de simplório, palerma, inocente, mas faz coisas reprováveis dissimuladamente ou pelas costas; manhoso, dissimulado, santo do pau oco”.
A definição acima é a que está na versão eletrônica do dicionário Houaiss, que tem o mesmo teor da definição do Aurélio, com a qual me deparei há tempos. Ou seja, o sonso não é um palerma, um bobo. Ele se finge de. A cultura popular pegou a parte visível do fingimento e a tomou como significado da palavra, quando de fato a totalidade do significado está no fingimento e no que ele esconde.