“Soneca, Dengoso, Feliz, Atchim, Mestre, Zangado e Dunga” foi a resposta de Branca de Neve, quando perguntada sobre quais eram as sete maravilhas do mundo.
sexta-feira, 27 de março de 2015
APONTAMENTO 241
O humor está a serviço de algo. Pode estar a serviço de si mesmo. Mesmo estando sempre a serviço de algo, ele pode prestar desserviço; ele presta desserviço quando tripudia de características físicas ou de desventuras. Uma coisa é fazer humor com a atuação profissional do Nestor Cerveró; outra bem diferente é a tentativa de soar engraçado às custas da aparência dele. Sempre tive comigo que o humor dependente das características físicas ou das tragédias fosse indício de falta de criatividade.
A Cynara Menezes foi incisiva (ela grafa tudo com minúsculas em alguns textos) ao escrever que “é grande a tentação de fazer ‘graça’ com o defeito físico do nestor cerveró. quem resiste a ela tem caráter. quem não resiste não tem. simples”. Eu nunca havia associado esse tipo de humor a falta de caráter. Sendo ou não falta de caráter, o humor é nobre demais para não ser inteligente.
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OS HOMENS QUE FUMAM ÓPIO
“Graham Greene, no último dia do ano de 1953, em Saigon, fumou ópio, numa sala reservada para si. Ao lado de uma cama redonda, havia uma estante cheia de livros. Dois deles eram do próprio Greene, que escreveu dedicatória em cada um deles. Ele conta essa história em seu ‘Ways of escape’.
“Em 1956, visitando Saigon, eu queria fumar ópio. Numa dessas coincidências literárias, fui parar exatamente na sala em que Greene estivera. Sei disso pelo fato de que os dois livros nos quais ele escrevera as dedicatórias estão agora em minha casa. Se por um lado não me regozijo do furto, por outro, não me arrependo”.
Meu nome é Tito Branco. Quando li os dois parágrafos acima, que estão na autobiografia do aclamado escritor Lucas Bridge, meus lábios esboçaram sorriso sutil com um toque de vaidosa malícia. A autobiografia dele, descobri lendo os trechos que citei acima, tem toques de ficção. Enquanto fumo ópio, aqui em minha casa, em Uberlândia, contemplo os dois exemplares assinados por Graham Greene lá em Saigon.
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O GOL ENSINA
Só ontem é que conferi o gol do Robinho, do Palmeiras, ontem, contra o São Paulo. Que golaço! Tudo bem que qualquer lance não só do futebol, mas da vida, depende de uma série de fatores. Todavia, diante de um gol daqueles, somos quase que inevitavelmente levados a pensar um monte de coisas. Uma delas é o óbvio de que mais meio metro para lá ou para cá, e não teria havido gol.
A precisão do chute é louvável; além do mais, não bastasse a precisão, houve a beleza. Por fim, do tiro do Robinho, tiremos lição: é preciso arriscar. Essa é uma das coisas bonitas que o futebol ensina. Arrisquemos. Ousemos. Desafiemos o improvável. Não tenhamos medo do ridículo. Vai que a bola entra.
DOIS TONS DE POLÍTICA
Poucas pessoas conseguem falar de política sem serem áridas. O Verissimo é uma delas. No caso dele, quando não há humor, ainda assim há leveza, o que não significa raciocínio tacanho. É um tom que pode divertir, ao mesmo tempo em que faz refletir.
Vira e mexe (como diria minha mãe), eu me lembro do Mujica. Quando trata de política, o tom dele é espetacular. Ele não tem o humor do Verissimo, mas tem a leveza, o lirismo, o sonho. É incrível como ele consegue ser contundente sem ser recalcitrante. Ele é incisivo, pragmático, sem ser rançoso.
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