terça-feira, 20 de julho de 2021

O som da palavra

No que a palavra “vagido” nomeia, em seu primeiro sentido, há algo de primitivo, de atávico, de não domado. Ao mesmo tempo, há algo de delicado; essa delicadeza, não a sinto no som e na fúria de “vagido”, que me passa a sensação de algo bestial, antigo, sem ternura. “Vagido” é forte demais para o que nomeia; vem de madrugadas escuras, frias e impiedosas. É grito animalesco, grave, terrífico. 

segunda-feira, 19 de julho de 2021

Todo dia

Coisas que não acabam:
louças para lavar
e estupidez.

Coisas que se multiplicam:
estupidez 
e louças para lavar.

Coisas que dão trégua:
louças para lavar
e limpidez. 

sexta-feira, 16 de julho de 2021

Casca de banana

Inácio não tomava casca picada de banana com água. Morreu devido ao então novo vírus, que assolou o planeta naqueles tempos. João Inácio tomava casca picada de banana com água. O vírus não o matou. Ana e José eram um casal; deduziram que João Inácio sobreviveu ao vírus por ingerir o preparado de casca de banana com água. O “mito” deles berrava sobre a eficácia da mistura. Regozijantes, os produtores de banana fecharam contrato com o governo. O vírus entrou em Ana e José. Quando ele morreu por causa do assalto virótico, Ana disse que pelo menos o marido lutara pela vida. 

quarta-feira, 14 de julho de 2021

Desejo

Que Bolsonaro fique bem. Que a obstrução intestinal, no futuro, torne-se, em processo metonímico, intestino preso. 

Velha ineficácia

O ministério da saúde do governo Bolsonaro admitiu que o chamado “kit covid” é ineficaz para combater a doença. É o mesmo que dizer que não existe tratamento precoce ou que cloroquina e ivermectina de nada adiantam se usadas contra o coronavírus. Os sensatos já sabiam disso. Muitos dos quinhentos mil mortos pela covid, não. Mas sabe-se que muitos continuarão tomando o kit, recomendado por Bolsonaro, por alguns “médicos” e por “especialistas” de WhatsApp. 

sábado, 10 de julho de 2021

Números

500 mil já morreram de covid. Se depender do pouco inteligente, aí são outros 500. 

sexta-feira, 9 de julho de 2021

Luz, penumbra, sombra

Fotografar é lidar com a luz, seja jogando luz sobre algo, seja se valendo da luz que sobre algo incide, seja revelando a luz que de algo emana. Essas três instâncias podem coexistir num registro fotográfico. Manejando a luz, o fotógrafo é capaz, caso queira, de criar uma gradação que pode ir da penumbra à sombra. Luz, penumbra e sombra são outras três instâncias que podem coexistir num registro fotográfico. 

O “guru” e o “messias”

Olavo de Carvalho já declarou ser contra serviço público de saúde. Depois de anos no exterior, está no Brasil, para se tratar em hospital público. Dessa vez, a fim de se virar nos Estados Unidos, não pediu dinheiro a seus seguidores. Que ele fique bem. Entrementes, pesquisa XP/Ipespe diz que 63% dos brasileiros desaprovam a maneira como Bolsonaro tem administrado o país. Já o Datafolha afirma que 57% dos entrevistados acham Bolsonaro pouco inteligente. Ele não merece tal eufemismo. Em contrapartida, por ter o cérebro que tem, não terá argúcia para deduzir as implicações de “pouco inteligente”. 

quarta-feira, 7 de julho de 2021

Reescrevendo

Se o Brasil fosse um país sério,
Bolsonaro não mais seria presidente.

Se o Brasil fosse um país,
Bolsonaro não seria presidente. 

segunda-feira, 5 de julho de 2021

Possível, é...

Outro país é possível.
Um que seja 
inteligente e fraterno.
Esse outro Brasil 
nunca existiu
nem jamais 
existirá. 

sexta-feira, 2 de julho de 2021

Quanto vale a "fé"

No Brasil, grupo evangélico fez oferta paralela de vacina para prefeituras. (Aleluia, irmãos!: em nome de um deus, corrupção.) 

Na África do Sul, e por aqui não é diferente, líder da Universal convence fiéis a doarem casas e carros à igreja. Segundo o Intercept Brasil, o “religioso” disse: “Você pega um versículo, pega algo muito atraente aos olhos e faz as pessoas acreditarem que é bom. E eles darão suas casas, seus carros. Não por causa da fé deles, mas porque você falou”. (Aleluia, irmãos!: sempre foi lucrativo investir na burrice alheia.)

Amém. 

quinta-feira, 1 de julho de 2021

Wizard

Os que concordam com genocidas
ora ficam em silêncio,
ora gritam,
ora posam de patriotas,
ora oram.

Autores e arautos de infernos,
são bestas fétidas sob 
ternos de fino cortes
e vestidos de caras grifes.

Neles, o sorriso é alvo.
Deles, o povo é alvo. 
Wizard se cala,
Bolsonaro berra.

Sem ar, sem dinheiro,
sem vacina, sem vergonha,
há quem beije o chão 
que o “mito” pisou.