domingo, 2 de abril de 2017

Escrevo

Escrevo quando estou mal.
Escrevo quando estou mau.
Escrevo quando estou bem.
Escrevo quando estou bom.

Escrevo quando penso.
Escrevo quando sinto.
Escrevo quando teorizo.
Escrevo quando ajo.

Escrevo quando sou crença.
Escrevo quando desisto.
Escrevo quando há solidão.
Escrevo quando há nós.

Escrevo quando na estrada.
Escrevo quando no quarto.
Escrevo quando é dia.
Escrevo quando há estrelas.

Escrevo quando começo.
Escrevo quando termino.
Escrevo durante.
Escrevo antes e depois.

Escrevo para mim.
Escrevo para você.
Escrevo para todo mundo.
Escrevo para ninguém.

Escrevo e jogo fora.
Escrevo e guardo.
Escrevo e releio
Escrevo e publico.

Escrevo e reescrevo.
Escrevo de uma vez.
Escrevo e corrijo.
Escrevo e sou escrito.

Escrevo com rapidez.
Escrevo com demora.
Escrevo com a razão.
Escrevo com o instinto.

Escrevo o meu sim.
Escrevo o meu não.
Escrevo o meu tom.
Escrevo o fim do texto. 

Comunhão

Os dedos se buscam,
as mãos se acham.
De mãos dadas, seguimos.
Somos duas comunhões comungando.
O descanso do amor é terna caminhada.
Duas uniões se unindo.
Não há sentido em sermos 
se não somos um para o outro;
o sentido de caminharmos
é caminharmos um para o outro.
Em móvel e antiga  busca,
nossos corpos fazem outra vez
o amor que fazemos um para o outro. 

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Literatura

Nosso amor estava
escrito mas estrelas.

Eu escrevi. 

Céu e terra

1
Ter contato com teu corpo 
é ter contato com uma deusa,
que me remete à beleza do amor,
que passa pela beleza do corpo.
Eu meto, teu corpo remete.
Vigor e poesia se fundem em gozo.
Força e ternura se fodem em gozo.
Outrora rarefeito, o amor é feito.
Somos telúricos e conhecemos o céu.
Concretos e plenos de transcendência,
os corpos estão doidos para se remeter.

2
Minha natureza, 
tua natureza, 
a natureza:
vento leve no cerrado,
nossos corpos estirados;
a nos cobrir, 
teto azul 
salpicado por nuvens.
Rodeados
de céu e de terra,
somos celestiais 
e telúricos;
animais na natureza, 
fazemos um amor
natural e elevado.

Verdes vales,
árvores, montanhas,
brisa e luz.
Somos amor claro
a céu aberto.
Naturezas
sendo naturais,
somos dois corpos
no chão a tatear
o paraíso.

3
Para nos amar,
buscamos o cerrado.
Nele, o topo da montanha,
onde é nosso lugar,
pois, quando há nós,
com os pés no chão,
buscamos os céus. 

A criança em nós

A criança tem o dom de se encantar. Não há rotina para ela. Para ela, tudo é significante, tudo tem significado ou tem encanto ou mistério. À medida que nos tornamos essa coisa chata chamada adulto, vamos perdendo o dom do maravilhamento. O ideal seria não perdermos o senso do espanto, usufruindo dele com os recursos do adulto. Faríamos prodígios.