terça-feira, 19 de julho de 2016
Fotopoema 395
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“Quanto mais meus óio chora, mais o mar quebra na praia”
Não é fácil criar música que tenha a intenção de manter tradições populares. Empresários não investem nesses trabalhos, as rádios não os executam e boa parte da nova geração, que pouco se vale do rádio para escutar música, em suas redes sociais ou dispositivos eletrônicos, tem acompanhado o que anda sendo feito no que a mídia convencionou chamar de sertanejo universitário.
Num contexto assim, é louvável que Luiz Salgado invista numa vertente que, antes de ser música, tem um papel social importante, que é o de não abrir mão de tradições. Elas compõem aquilo de que somos feitos. Negá-las é negligenciar um manancial poderoso e poético. Conhecer aquilo que é nossa substância não implica fechar os olhos para o que vem de fora, para o novo, para o outro.
“Quanto mais meus óio chora, mais o mar quebra na praia” é o mais recente (o quinto) CD de Luiz Salgado; o trabalho tem quinze faixas. Não há corte radical no CD se comparado aos demais já lançados por Luiz Salgado. Todavia, de modo mais intenso, o artista se mostra capaz de promover uma gostosa mistura entre elementos caipiras e sonoridades atuais.
Estão presentes no CD a religiosidade interiorana, o cerrado, o canto triste do sertanejo, a folia de reis, a temática social, a viola. Um dos grandes méritos de “Quanto mais meus óio chora, mais o mar quebra na praia” é ter conseguido fazer com que esses elementos não soem datados (de fato, não são), mas evidenciar que têm muito a dizer sobre o que somos.
Em contrapartida, os robustos arranjos imprimem nas canções uma profunda sintonia com o que há de mais, digamos, urbano, contemporâneo. O trabalho é tradição; ao mesmo tempo, soa atual. Há mistura de gêneros, de influências, sem que o todo pareça saturado. Tradição sem ressentimento, modernidade sem concessões mercadológicas.
Nessa amálgama feita do que é antigo e do que é novo, o trabalho tem viola caipira e solo de guitarra. É um CD lírico, um cântico às tradições que abraça com bela alma musical os recursos atuais. Luiz Salgado está tradicional como sempre, atualizado como nunca.
Invenção de mim
Ao sabor do vento,
que haja esta brisa.
As demais coisas,
que as tempere eu.
O rio sabe que não
deve correr por aí
subindo montanha.
Que eu flua tal rio
nesse meu destino
em que me invento.
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Páginas de amor
Há que se ler “A dupla chama: amor e erotismo”, do Octavio Paz. Num texto de rara elegância, o escritor discorre sobre sexo, erotismo e amor, analisando como a humanidade os tem exercido ao longo dos séculos, tanto no ocidente quanto no oriente. Tratado do amor que recebeu tom poético, “A dupla chama: amor e erotismo” é de leitura saborosa.
O livro é um ensaio de rara lucidez lírica. Tem o rigor do gênero, sem todavia se entregar a uma linguagem emproada, o que não é raro nesse tipo de texto. Paz traça uma linha histórica que evidencia como a humanidade tem lidado com o amor e suas manifestações, desde os gregos clássicos até a modernidade. Nesse passeio temporal, a antiguidade greco-latina e Molly Bloom podem conviver numa mesma página, numa escrita que tem critério e graciosidade.
História, antropologia, literatura, psicanálise, teologia e filosofia compõem o arcabouço de que Octavio Paz se vale, diferenciando o sentimento amoroso da ideia do amor que é adotada por uma sociedade e uma época. O livro alega que o sentimento amoroso tem existido em todos os tempos e em todos os lugares. O que varia é o modo como determinada sociedade, em determinado contexto, vive esse sentimento, produzindo, a partir daí, uma ética e uma estética amorosa que é modificada ao longo do tempo.
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