sábado, 18 de abril de 2020

Sobre literatura e fotografia

O NAC, Núcleo de Arte e Cultura do Unipam (Patos de Minas), enviou-me algumas perguntas relativas a meu trabalho literário e a meu trabalho fotográfico, pedindo-me que gravasse um vídeo respondendo aos questionamentos. Ei-lo.

Cinco cópias — devidamente assinadas

O burocrata seria útil se ele se esquecesse dos colegas de trabalho, se ele não obrigasse os outros a perder tempo com o que ele inventa por não ser capaz de inventar outra coisa. O burocrata é o defensor de uma linha de produção em cuja essência só há repetição de algo que não faz a menor falta para o andamento do mundo trabalhista. O universo da burocracia não aceita que, muitas vezes, a melhor maneira de fazer com que um trabalhador produza é deixá-lo em paz. 

Permanecesse o defensor da burocracia com suas inutilidades, quieto em seu canto com seus carimbos, seus formulários e suas assinaturas, não haveria problema. Só que não: o burocrata impede que o outro seja o melhor de si, o que torna o burocrata um entrave que julga estar contribuindo para o progresso, o bem-estar, a organização. O burocrata é um empecilho para o crescimento do que o outro tem de melhor, por obrigar o outro a ficar envolvido com tarefas repetitivas, inócuas, imbecis, sem sentido nem lógica. 

O burocrata é, antes de tudo, um ser que não reflete sobre o que ele poderia fazer para não infligir ao próximo um tormento. Feliz o que não tem um burocrata por perto no local de trabalho. O burocrata é torpe porque dá a seu inútil trabalho um ar de produtividade, de quem arregaça as mangas, quando na verdade é o mentor de engrenagens que atravancam o bem-estar de quem trabalha. Qualquer ambiente de trabalho seria mais produtivo sem a burocracia. Nem as frequentes e inúteis reuniões de que o mundo corporativo não abre mão são tão corrosivas quanto a burocracia. 

Só um espírito destituído de imaginação e sem senso de humor é capaz de enxergar utilidade no que é um fardo oneroso, consumidor de tempo que poderia ser usado em algo que preste. A burocracia é a sistematização do tédio e da burrice, a negação de tudo o que é engenho, inspiração, colaboração, fulgor, senso estético. Em sua sordidez, faz pose de imprescindível, quando na verdade não passa de algema disfarçada de eficácia. Os grilhões da burocracia são feitos de papel, de assinaturas, de carimbos, de refeituras de um mesmo trabalho, comprovações do que já está comprovado. O defensor da burocracia tolhe, escraviza, mutila, mata.