segunda-feira, 11 de abril de 2022

Fascismo e viço

Há pessoas feias sem viço e pessoas feias com viço. Há pessoas bonitas sem viço e pessoas bonitas com viço. O viço em si não torna ninguém feio nem torna ninguém bonito. Quando o viço existe, confere a quem o tem uma “atmosfera” ou um “astral” que é fácil perceber mas que não é fácil de definir. O viço confere a quem o tem um aspecto geral que passa a ideia de um corpo saudável e de uma mente ativa. Quem é viçoso transmite uma ideia de saúde, de madura paz. No outro lado da moeda, uma pessoa sem viço passa a ideia de murchidão. 

Levando-se em conta o que o bolsonarismo tem feito com o Brasil, não é possível constatar viço. O Brasil perdeu o viço porque os indivíduos não têm terreno propício para vicejarem. Quem vota em quem defende tortura não é viçoso, quem defende a morte como conduta não é viçoso. E quem está preocupado com belezas ou com elevações ou com inteligências tem sido banido, seja com sutileza, seja com brusquidão. Não é fácil vicejar quando o fascismo abre suas asas. O vicejo pleno está ligado ao ambiente do indivíduo, pois, sozinho, não há como ninguém ser mais forte do que a sociedade em que está inserido.

O Brasil apodreceu, murchou. É uma terra em que alguns ignorantes bradam descarada violência e outros ignorantes bradam disfarçada violência. Aqueles tiraram as máscaras, assumindo que são a favor da morte do que for diferente deles; estes mantém disfarce de civilidade. Estes e aqueles são idênticos em essência. O que muda são os métodos de que se valem para implantar uma sociedade em que o indivíduo pensante e sensível deve ser apagado. O Brasil é um país cuja população foi carcomida pelos vermes do fascismo, os quais adentraram os corpos e, de dentro para fora, fizeram jorrar pústulas doentias e trevosas. 

As bocas sem dinheiro têm o mau hálito da fome; as bocas com dinheiro têm o mau hálito da perversidade travestida de ilustração; com dinheiro ou sem dinheiro, há pobres e podres bocas. O Brasil bolsonarista é fétido. O fascismo é encarniçado; para se alimentar, precisa fazer com que o outro seja carniça. Um país putrefato não dá à subjetividade a possibilidade do florescimento. O fascismo é o apagamento e a anulação do indivíduo. O que se vê nas ruas do Brasil bolsonarista não são almas férteis, mas hordas mortíferas. Somos um país sem viço.