domingo, 2 de fevereiro de 2014

EINSTEIN E O CACHORRO

Antes de eu dizer o que vou dizer, afirmo: gosto de cachorros. Fui criado numa casa em que havia deles, por causa de meu pai, que sempre os teve. Depois que meu pai morreu a tradição foi mantida. Reitero: gosto de cachorros. 

Recentemente, no Facebook, tem sido veiculada uma foto em que há o Einstein. Junto a ela, a seguinte frase: “Não confio em pessoas que não gostam de cachorro, mas confio totalmente num cachorro quando ele não gosta de uma pessoa”.

Não entendi, para começar, o motivo de haver uma foto do Einstein “ilustrando” a frase. Quiseram com isso, buscando um suposto argumento de autoridade, dizer que o físico é o autor da frase? Isso cheira a autoria incorreta.

Contudo, o curioso é que a frase não faz o menor sentido. Não confiar em uma pessoa pelo fato de ela não gostar de cachorro?! Quer dizer então que o critério para se confiar em alguém é o fato de a pessoa gostar de cachorro? O sujeito pode ser um calhorda, mas se gosta de cachorro é, portanto, confiável? Ou calhordas não são capazes de gostar de cachorro?...

Quer dizer então que todo mundo que gosta de cachorro é confiável? Quer dizer que basta à pessoa gostar de cachorro para que se confie nela? Será que não há alguém nesse mundo de bilhões de pessoas que goste de cachorro e que seja um trapaceiro?...

Ora, isso é limitar a confiança a um critério sem sentido. Hitler gostava de cachorro. Ele gostava de crianças também, e, dizem os biógrafos, não havia nisso traço do que poderíamos chamar de populismo. Pergunte a um judeu se ele confiaria em Hitler após saber que ele gostava de cachorro...

A frase, que já havia começado ruim, terminar pior do que começara: “Confio totalmente num cachorro quando ele não gosta de uma pessoa”. Nesse caso, o critério para se confiar numa pessoa é decidido por um... cachorro. 

E se um cachorro não gostar de sua mãe?... (Será que todos os cachorros do planeta gostam de sua mãe?...) E se um cachorro não gostar de seu melhor amigo?... (Será que todos os cachorros da Terra hão de gostar de seu melhor amigo?...) E se um cachorro não gostar de você?... E se um cachorro vier a não gostar de sua esposa ou de seu marido?...

Um cachorro não vale nem mais nem menos do que um tatu, por exemplo. A diferença é que o cachorro foi domesticado. Séculos e séculos de convivência criaram uma dependência mútua entre cachorro e gente.

Ainda assim, a psique humana é mais melindrosa e multifacetada do que é capaz de deduzir a sagacidade de um cão, por mais sofisticada que ela seja. Não sei se um cachorro se deixa levar pela imaginação, mas o ser humano se deixa, a ponto de dizer que o “parecer” de um cão é critério para se confiar numa pessoa.