domingo, 28 de julho de 2013

UM PEDAÇO DO MUNDO

Fotografar é fazer uma escolha. Primeiro, a escolha do assunto; depois, o modo como fotografá-lo. Fotografar é fatiar o mundo, pois ele não cabe todo na moldura fotográfica: quem fotografa faz um recorte. Mesmo uma paisagem ampla, fotografada com uma grande angular, é um recorte do mundo. Não há fotografia que abarque todas as coisas: fotografar é escolher.

Diante da inevitabilidade dessa escolha quando se fotografa, surge um impasse curioso: se mostrar as coisas todas é impossível, como fatiá-las, sem, contudo, deixar de oferecer um vislumbre da riqueza que o todo tem? 

Mesmo a mais ampla paisagem é uma ínfima parte do todo; uma abelha é uma ínfima parte do todo. Fotografar é sempre registrar um pedaço da beleza do todo. Entretanto, toda fotografia é fractal: o olho de uma pessoa é reflexo do todo; uma ampla paisagem ou uma abelha são reflexos do todo. Fotografar uma libélula ou um lago é fotografar o todo. Conhecer o detalhe é conhecer o todo. Não importa a escala: aquele que tira uma foto fotografa o todo. Cada coisa, em si, contém o Universo.

Isso acaba nos levando a uma instigante relativização entre o micro e o macro: o ambiente da flor é a árvore; o ambiente da árvore é, por exemplo, o Cerrado; o ambiente do Cerrado é a Terra; o ambiente da Terra é o sistema solar; o ambiente deste é o Universo...

É sempre curioso conhecer o ambiente ou os arredores de uma fotografia. Fotografa-se, por exemplo, uma flor e o ambiente em que ela está. Depois, olha-se detidamente as duas fotos. Muitas das vezes o ambiente parece não comportar o que a fotografia de um detalhe revela.

Esse exercício, digamos assim, revela outro aspecto que é definidor do que é a fotografia: o olhar do fotógrafo. Esse olhar é o que nos oferta, por fim, um vislumbre da riqueza do todo. Uma coisa é uma “simples” árvore à beira de uma rodovia; outra coisa é a percepção de que essa árvore possibilita uma fotografia. A fim de ilustrar essa ideia, posto estas duas fotos. A primeira delas é um detalhe da árvore; a segunda, a árvore em seu ambiente.