É mais fácil ser político em meio a um bando de desinteressados. Infeliz daqueles (e, em especial, infeliz dos jovens) que endossam as palavras de um mandatário quando ele diz querer que os jovens não se interessem por política. Para os políticos, o desinteresse do cidadão é ótimo. Todavia, a partir do momento em que o cidadão não se interessa por política, ele nem saberá como cobrar o que é dele por direito, por mais que esbraveje em redes sociais.
Consequências do não interesse por política são visíveis quando a pessoa cobra de um vereador o que é da alçada do presidente, quando cobra do presidente o que é da alçada de um governador, cobra de um governador o que é da alçada de um deputado federal... As redes sociais escancararam outra consequência do desinteresse por política: publicações que se querem politizadas não passam de deselegância, notícia falsa ou destempero.
Num país de despolitizados que acreditam estar fazendo política quando insultam, mentem ou divulgam notícias falsas, querer jovens que não se interessem por política é um desserviço ao país (mais um), ainda mais vindo de alguém que deveria incentivar o conhecimento, em vez de ficar fazendo gesto, enquanto segura uma criança, como se estivesse com uma arma em mãos. Cargos políticos são para serem escrutinados vinte e quatro horas por dia. Um cidadão que não se interesse por política abre mão de seus direitos e é manipulado para que apoie causas que são prejudiciais a si mesmo. O desinteresse por política faz com que o cidadão não exija aquilo que ele merece. Acreditar em mamadeira de piroca e em kit gay é sintoma de desinteresse por política.
Política é possibilidade de transformação; o mesmo com a arte, com a ciência. Além do mais, o jovem não pode se iludir: se é para que ele seja um astronauta, como parece desejar o mandatário, é preciso, antes, predispor-se a estudar com dedicação, por anos, pelo menos, muita matemática, muita astronomia e muita física. Não é fácil ser um astronauta, mas é fácil proferir tolas platitudes.
Querer que um jovem não se interesse por política (ou banir da juventude a possibilidade de ela se interessar por política) é correr o risco de que no futuro o jovem seja um político tão obtuso quanto um político que diz querer uma garotada que não se interesse por política. O conhecimento é fascinante demais, tudo é fascinante e diverso demais; em contraposição, nada mais perigoso e boçal do que alguém que despreza os afluentes do conhecimento. No mais, um imbecil é um imbecil — seja na Terra, seja fora dela.