Se há predestinação, você está lendo estas palavras agora porque isso estava nos desígnios do Universo. Se não há, a vida vai se fazendo à medida que vai havendo interações entre nós e as coisas que nos cercam; tudo o que existe faz parte dessa engrenagem a que chamamos de destino, mesmo não sabendo nós se ele já está escrito ou se vai sendo escrito por nós também.
É preciso levar em conta fatores externos, os quais influenciam nossas vidas: alguém sai para o trabalho, está chovendo. Por causa da chuva, a moto derrapa e a pessoa se machuca. Se há predestinação, não haveria como fugir do tombo, ainda que tenha havido fator externo para que ele ocorresse — nesse caso, a chuva é um dos fatores externos. Se não há predestinação, o tombo poderia não ter ocorrido — mas ocorreu; tendo ocorrido, é destino que ficou no passado, é história.
Acabei de levantar meu braço esquerdo; se a predestinação existe, isso não foi decisão minha. Se a predestinação não existe, foi decisão minha. Se há predestinação, não há nada que possamos fazer com nossas vidas; se não há, o controle é nosso, mesmo eu não vislumbrando um absoluto controle de nossa parte; há os fatores externos, que não sei se são predestinação ou se não são.
Quando penso sobre a predestinação, tenho a sensação de que se trata de mais uma daquelas coisas que parecemos estar prestes a decifrar, mas que nunca compreendemos. À parte isso, não me parece insano cogitar um mundo em que houvesse, ao mesmo tempo, um mínimo controle nosso sobre nossas vidas e uma interferência externa, digamos assim.
Somos pequenos demais, estamos sujeitos a um sem-fim de fatores que podem mudar nossas vidas de um instante para outro. Ainda assim, há a minha desconfiança (que pode ser ilusória) de que temos algum controle sobre aquilo que somos. Todavia, pode ser coisa da predestinação eu pensar coisas assim neste momento.