segunda-feira, 30 de dezembro de 2019

Haicai 75

Acharam um Moro.
Podem quebrar mais
do que o decoro. 

domingo, 29 de dezembro de 2019

Aprendizados

Coisas que foram “ensinadas” neste ano:

• a alta do dólar é algo bom;
• o pobre não sabe poupar;
• desempregados devem bancar programa de geração de empregos;
• os Beatles surgiram para implantar o comunismo;
• o Brasil era socialista;
• a Terra é plana;
• o Leonardo DiCaprio dá dinheiro para tacar fogo na Amazônia;
• ONGs são responsáveis por queimadas na Amazônia;
• o Greenpeace derramou óleo no litoral brasileiro;
• o peixe é inteligente: desvia do óleo;
• o ambiente é um entrave para os negócios;
• questão ambiental só importa para os veganos;
• fiscais do Ibama e do Instituto Chico Mendes são criminosos;
• os garimpeiros e os madeireiros devem ser defendidos dos fiscais do ambiente;
• os fiscais do ambiente devem ser desarmados; a população deve ser armada;
• as ações criminosas dos desmatadores devem ser encorajadas;
• o aquecimento global é uma invenção marxista;
• universidades públicas escondem plantações de maconha e produzem drogas sintéticas;
• faculdades de humanidades não trazem retorno à sociedade;
• estudantes e professores que protestam são imbecis;
• professor é inimigo; miliciano é amigo;
• Paulo Freire não presta;
• as escolas têm “kit gay” e mamadeira de piroca;
• a escravidão foi benéfica para os descendentes dos escravos;
• não existe racismo no Brasil;
• o Brasil pode ser destruído por feitiçaria e sacrifícios;
• o turismo sexual deve ser estimulado;
• os direitos humanos são deletérios;
• a fome no Brasil é mentira;
• as normas de combate ao trabalho escravo devem ser afrouxadas;
• o trabalho infantil é bom;
• é hipocrisia a crítica de nepotismo quanto à indicação de Eduardo Bolsonaro para a embaixada americana;
• o INPE e o IBGE divulgam dados incorretos;
• blocos de rua no carnaval são adeptos do “golden shower”;
• o golpe que levou à ditadura militar deve ser comemorado;
• torturadores e ditadores devem ser exaltados;
• a implantação do excludente de ilicitude e do AI-5 não são tão impossíveis assim;
• alvejar alguém com centenas de tiros é apenas um incidente: “O exército não matou ninguém”;
• dentro de casa, uma arma e um liquidificador oferecem o mesmo risco;
• veículos de comunicação que não apoiam o governo devem ser intimidados; seus anunciantes devem ser ameaçados;
• as críticas são a mídia querendo derrubar o presidente e são pessoas torcendo contra o governo;
• comerciais de estatais não podem mostrar jovens negros nem podem mostrar homossexuais;

2020 vem aí. Pleno de pessoas a fim de “aprender”. 

quarta-feira, 25 de dezembro de 2019

Chatice

Natal

Alastra ignorância e arrota preconceitos, mitifica torturadores e adora assassinos. Em nome do que chamou de “menino Jesus”, enviou mensagem me desejando “um santo Natal”. Fiquei comovido com a desfaçatez. 

quinta-feira, 19 de dezembro de 2019

Ora, ora

Para ela,
rezar é uma tortura.
Ora ela reza para que
o capitão expulso torture,
ora ela reza para que
os oponentes dele
sejam torturados. 

Mais burocracia

O burocrata, em regra, lê mal e escreve mal. Por não saber ler e não saber escrever, as regras que ele mesmo estipula, no mais das vezes, são ininteligíveis. Ele considera que tolos cliques numa tela são mais importantes do que saber ler, do que saber escrever, do que ser criativo. O burocrata enxerga a tecnologia como um fim em si, não como um meio. O burocrata se regozija em produzir autômatos como ele. 

segunda-feira, 16 de dezembro de 2019

Retorno à burocracia

O primeiro “pecado” da burocracia é a falta de imaginação. Ficasse só nisso, ela até que seria suportável. O problema é que a burocracia atinge, mais cedo ou mais tarde, o reino da burrice. Ao fazer isso, atrapalha toda a comunidade. Com a burocracia, se o objetivo é sair do destino “A” e chegar ao destino “B”, esse caminho não pode ser feito de modo direto. É preciso, antes, que se fique emperrado no setor “A1”, depois no setor “A2”, depois no setor “A3”, depois no setor “A4”... O número de setores, antes que se chegue a “B”, dependerá dos caprichos e da falta de imaginação dos burocratas.

O princípio básico da burocracia é este: se é possível complicar, não faz sentido simplificar. O sonho da burocracia é ser sofisticada, eficaz, mas ela não entende que excesso de documentos não implicam eficiência. A burocracia criou para si a ilusão de que papeladas, assinaturas, trâmites e detalhes inúteis são indícios de rigor, de organização, de autoridade. Não há nada disso. Quanto mais papeladas, assinaturas, trâmites e detalhes inúteis, maior a expressão da ineficácia e da burrice da burocracia.

Se a burocracia fosse um reino fechado em si e que atuasse somente para aqueles que, destituídos de senso de encantamento, enxergassem nela alguma utilidade, não haveria problema. Os burocratas reunir-se-iam em suas mansões de documentos e ficariam tramitando até o fim dos tempos sua papelada inútil. Só que isso não ocorre. Os burocratas, à medida que a tecnologia vai avançando, vão se especializando em... criar mais burocracia — para os outros.

A informática, aliada da velocidade, é, nas mãos dos burocratas, instrumento de inutilidades e de lentidão. Alegando coisas como competência, produtividade, transparência, agilidade, os burocratas acabam prestando um desserviço, fazendo com que todos ao redor fiquem presos nas garras de tarefas que emperram a produção, tarefas que ocupam um todo considerável de trabalhadores que, não estivessem envolvidos com tolas burocracias, poderiam estar sendo úteis.

A burocracia é o mundo do faz-de-conta. Sem se predispor a resolver os verdadeiros problemas, ela trata de inventar encrencas de outra ordem. Nessa inocuidade, os burocratas, pagos para resolverem problemas ou para criarem soluções, acabam informatizando um problema onde antes havia uma solução ou onde, pelo menos, não havia um problema. A burocracia é engodo com cara de solução. A burocracia é a “arte” de desenvolver picuinhas que nada têm a ver com agilidade nem com solução de percalços, embora os burocratas se vendam como pertencentes à quintessência do trabalho e como os arautos-mores de palavrinhas como “empreendedorismo” e “pró-atividade”, que estão na moda entre eles.

A burocracia é a morada do lugar-comum, a casa do discurso empolado, o lar do discurso pseudointeligente. Reina na burocracia o mundo da aparência, em atitudes que se vestem e se revestem de mais e de mais papéis, de mais e de mais cliques, para não revelarem o que há por trás delas: dispêndio improdutivo de tempo e desperdício de talentos. Sei que tenho de conviver com infernos; a burocracia é só um deles. Ela é coisa inútil alçada à condição de pilar principal no funcionamento das coisas. Não é a burocracia que faz um país. Fosse, o Brasil seria grande. 

sexta-feira, 13 de dezembro de 2019

Os quereres

Queres rebeldia?
Sê tua sagacidade.

Queres beleza?
Sê teu poema.

Queres paz?
Sê tua dança.

Queres saúde?
Sê teu rabanete.

Queres humor?
Sê tua pilhéria.

Queres elegância?
Sê teu corpo.

Queres realização?
Sê teu dom.

Queres pontualidade?
Sê teu relógio.

Queres o bem?
Sê tua inteligência.

Queres sofisticação?
Sê teus livros.

Queres um caminho?
Sê teu guia.

Queres deus?
Sê teu milagre. 

Haicai 74

Afaga larápio.
Inventando despiste,
culpa DiCaprio. 

Água cadente

A sede não tem fim:
no país dos alimentos envenenados,
querem privatizar a água.

Os que já morrem famintos
morrerão de sede.
Os que já morrem sedentos
morrerão de sede.

A carne é cara,
o combustível é caro,
a água será cara.

Na líquida meritocracia,
ricas taças em mãos
que empunham látegos
invisíveis e eficazes.

Na sólida sarjeta,
a sede de um homem
ergue, com fome,
os lábios para o céu,
bebendo da água
que cai para todos.