A revista Época tentou fazer um mea-culpa, dizendo ser contra o fim da democracia. Dentre outras coisas, escreveu a revista: “As democracias eram solapadas no passado por golpes militares, revoluções, incêndios e tumultos. Desmoronavam em meio à guerra e à peste. (...) As democracias não morrem mais assim, como bem argumentam os cientistas políticos americanos Steven Levitsky e Daniel Ziblatt. Na maioria dos casos modernos, as democracias são corroídas lentamente, em passos pouco visíveis”. Nem tão pouco visíveis assim. A Época faz parte das organizações Globo, e a Globo, não podemos nos esquecer, já apoiou dois golpes: o militar de 1964 e o institucional de 2016.
Prossegue a revista: “É preciso dizer um altissonante ‘não’ àqueles que querem romper as regras do jogo democrático, que negam a legitimidade dos oponentes, que cultivam a intolerância ou encorajam a violência, aqueles que admitem a restrição — mínima que seja — às liberdades civis. Basta do arbítrio que já macula o passado!”.
A desfaçatez da revista é a mesma com que outros representantes da imprensa e dos meios de comunicação têm agido. Veja, IstoÉ, Jovem Pan, Rede Globo, Folha de S.Paulo, Estadão, dentre outros, inflamaram manifestantes cheios de anacronismos históricos e de desinformação, que, não raro, vestiam a camisa de uma empresa, a CBF, cujo ex-presidente não pode sair do país sob risco de ser preso por causa de corrupção. Revistas, rádios e TVs agiram com irresponsabilidade, abandonaram o jornalismo e agora não sabem o que fazer com os filhotinhos que criaram, pois não esperavam que a prole fosse escolher o caminho truculento.
Para uma parte da imprensa e dos meios de comunicação, readotar uma política neoliberal era o plano. Não contavam com a assunção descarada de gente que apoia tortura, assassinato, gente de “bem” que quando regurgita “bandido bom é bandido morto” não pensa num Geddel, por exemplo. Uma publicação como a Época dizer que “é preciso dizer um altissonante ‘não’ àqueles (...) que cultivam a intolerância ou encorajam a violência” é tão cínico quanto um torturador dizer que preza pela integridade física dos que mutila.