quinta-feira, 23 de outubro de 2014

O RICO

Eleitores têm dito que não votam no Aécio por ele ter vindo de família rica, por ele supostamente ter dito que, quando jovem, nunca arrumou a própria cama, que tinha duas empregadas domésticas. Dizem não votar nele por ele ser um dândi que gosta das noites cariocas...

Não voto em Aécio. Não pelas razões acima. Eu não deixaria de votar na Dilma se ela tivesse vindo de família rica. Não é o fato de Aécio ter vindo de família rica o que o torna impalatável para mim. Relevem a obviedade: há ricos legais e há pobres insuportáveis; há ricos insuportáveis e há pobres legais.

Ainda que Aécio não tenha construído aeroporto(s) para a família, ainda que Aécio não se envolva com cocaína, ainda que Aécio seja um trabalhador que tenha aumentado com honestidade, garra, pujança, sagacidade, coragem, impetuosidade, ousadia e inteligência o patrimônio dele e da família, não voto nele.

A herança financeira que Aécio recebeu não é da nossa... conta. Já a herança política dele é. A herança político-ideológica dele é da nossa conta pela simples razão de que a política está ligada à comunidade, não ao dinheiro acumulado pela família de um candidato (a não ser que esse ganho financeiro tenha sido conseguido mediante dano a dinheiro público).

Aécio Cunha, pai de Aécio Neves, era da Arena, partido que apoiava a ditadura militar. Neves, ao se referir ao golpe militar de 64, chama-o de “revolução” (Dilma o chama de... golpe). Militares que apoiam a ditadura militar estão com Aécio e criticaram Dilma. Essas questões, sim, dizem respeito a todos, pois são questões do País, são questões não particulares.

Não consigo votar num candidato que tenha uma proposta neoliberal. O meu “não” a Aécio não é por ele ser rico. Se no lugar dele houvesse um candidato pobre (ou que tivesse sido pobre) que defendesse os princípios do neoliberalismo, ele não teria meu voto; não por questões financeiras, mas “simplesmente” por ser neoliberal.

Em postagens anteriores, já dei justificativas para meu voto. Elas são o oposto do que a política neoliberal fez com o Brasil da década de 90; não preciso repeti-las, pois, nesse caso, um lado da moeda permite que se deduza o outro. Este texto é uma justificativa para o não voto em Aécio, sem deixar de ser, ao mesmo tempo, mais uma para o voto em Dilma. 

O RETRATO DA IMPRENSA

O dono de um jornal grande tem o direito de dar à sua empresa a orientação política que ele bem desejar. Também tem o direito de se manifestar como cidadão em qualquer ato político. O portador do cartaz que ilustra esta postagem é Fernão Lara Mesquita, dono do jornal O Estado de São Paulo. Quem tirou a foto foi o famoso Tutinha, dono da Jovem Pan. Ele publicou a imagem em seu Instagram.

Minha crítica não é contra a participação de Fernão e de Tutinha em ato político. Critico, sim, o modo como tornaram pública a participação que tiveram. Não é preciso dizer o quanto o cartaz é tosco e desrespeitoso. Insisto: não necessariamente na ideia que porta. Pode-se, é claro, discordar da política feita na Venezuela (ou no Brasil). A questão é que os dizeres do cartaz revelam destempero e ódio.

Estas eleições se caracterizaram pela saída do armário de quase todos os meios de comunicação grandes. Abandonaram sutilezas, deixaram escancarado o quanto são despreparados e ressentidos. Ainda bem que não dependemos deles para saber o que está acontecendo. Estão interessados em divulgar os interesses das empresas que detêm, valendo-se, não raro, de um tom vergonhoso.