A fome se regozija com o que a abastança dispensa.
quarta-feira, 4 de dezembro de 2013
"COMPRE! COMPRE! COMPRE!"
Há muitos anos li uma frase que dizia algo mais ou menos assim: “Algumas roupas nos dão uma sensação de paz tão grande que nenhuma religião consegue nos proporcionar”. Não me lembro de quem é a frase, as palavras podem não ser exatamente essas, mas a essência dela está no que cito de memória.
Deixo de lado a questão específica da sensação de paz, referindo-me agora ao que um determinado produto pode causar: a ideia de que basta tê-lo para se tornar uma pessoa descolada. A publicidade e a propaganda são eficazes, pois cai-se na armadilha, compra-se a ilusão, seja ela materializada num telefone, seja num televisor.
Um produto dá a ilusão de que se é descolado. Ilusão que passa rápido. Daí a ânsia de se adquirir um outro, pois não se quer ficar fora da comunidade dita globalizada e descolada. Compra-se e fica-se com a sensação de que estamos em sintonia com os demais, frequentando uma comunidade de gente sedutora e inteligente.
Não comprar é estar fora do jogo, é anular a sensação de pertencimento a uma coletividade contemporânea, feliz e cosmopolita. Nessa “lógica”, o modelo de produto lançado ontem é obsoleto hoje; o que importa é ser descolado agora. Miragem e ilusão a nos prometer um oásis criativo e maduro, num mundo em que atraímos os outros porque compramos. O celular faz o monge.
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