quarta-feira, 23 de agosto de 2017

Linhas

Spotlight

Spotlight (2015) conta a história do trabalho de quatro repórteres que investigaram abusos sexuais de padres contra crianças em Boston, nos Estados Unidos. O diretor é Tom McCarthy. O roteiro é dele e de Josh Singer. No Brasil, o filme recebeu o título de Spotlight: segredos revelados. A denúncia inicial (houve outras posteriormente) foi publicada em 2002 no jornal Boston Globe, em trabalho dos jornalistas Matt Carroll, Sacha Pfeiffer, Michael Rezendes e Walter V. Robinson.

À medida que o número de padres envolvidos nos abusos vai aumentando, o filme toca feridas, mencionando o acobertamento da igreja católica quanto ao comportamento abusivo dos religiosos e mostrando que há quem lucre a partir dos graves delitos de que o filme trata. Enquanto o número de padres pedófilos vai se agigantando, há o inevitável momento em que o espectador encara a questão de que Boston é só um microcosmo das atrocidades de parte do clero.

O roteiro acerta ao humanizar as vidas dos repórteres e as das vítimas que dão depoimentos para os investigadores do Boston Globe. Outro acerto louvável é o tom do filme, que, não sendo panfletário, não deixa, ao mesmo tempo, de contundentemente expor esse câncer da igreja católica. Spotlight é maduro, corajoso. A denúncia que realiza não soa rançosa nem soa como “vingança” contra a igreja católica.

Além disso, o filme evidencia a importância de algo que tem se tornado cada vez mais raro nos meios de comunicação: a matéria investigativa que demanda tempo, que foge da urgência diária da correria das redações. Não sei se as empresas do exterior têm investido em matérias que precisam de fôlego para serem realizadas (as daqui não têm). Do que sei, é que Spotlight joga luz sobre a nobreza que o jornalismo pode ter.