sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

FIFTY GIRLS

Lembro-me como se tivesse ocorrido instantes atrás: a pé, estávamos passando sobre a ponte do Rio Paranaíba, aqui em Patos de Minas. Eu devia ter uns oito, nove anos. Foi quando o Edinho, colega de infância, disse que sabia falar “garota” em inglês — e falou!

Fiquei impressionado. Na época, não verbalizei o impacto que tive por causa da situação. Fosse para verbalizar, eu diria algo assim: “Cara, ele tem a minha idade e saber falar ‘menina’ em inglês! Que incrível!”.

Mais tarde, na pré-adolescência, o Edvaldo, que era meu vizinho, disse, casualmente, enquanto brincávamos com uma bola de basquete, que sabia contar até cinquenta em inglês. Novamente, fiquei admirado. Fosse para verbalizar, sairia algo assim: “Ei, como pode alguém saber contar até cinquenta em inglês?!”.

Sempre tive a propensão a encarar as realizações mentais alheias como façanhas. É assim ainda hoje. Em virtude disso, sempre tive o maior fascínio pelos meus professores. Eu ficava abobalhado diante da inteligência deles; minha vontade era a de ser tão brilhante quanto eles.

A leitura dos clássicos, iniciada na adolescência, colaborava para o aumento da minha admiração pelos feitos da inteligência; chamo isso de senso de espanto. Ainda que muita coisa tenha sido deixada para trás, tal senso continua em mim. Um pouco menos ingênuo, mas ainda intenso.