Segundo artigo escrito por Michael Pollan, publicado na edição deste maio da revista Piauí, no romance “A informação”, de Martin Amis, há um personagem que “almeja escrever ‘A história da humilhação crescente’, um tratado que narra o destronamento gradual da humanidade de sua posição como centro do universo”. Desconheço o livro; Copérnico e Darwin são mencionados no artigo de Pollan.
A temática do personagem de Amis é sedutora. A ciência pode solapar dogmas ou crenças. A questão é que isso não implica a diminuição do homem; trata-se da busca de algo racional, o que é bonito, ainda que se alegue que se pode apenas estar trocando uma ilusão pela outra. A busca de uma verdade racional nunca é humilhante, nunca diminui o homem.
Tenho a crença de que o Universo é de uma indiferença absoluta quanto ao que a humanidade é. Mas assim é com tudo o mais. Paradoxalmente, o Universo é indiferente com relação a tudo o que ele abarca, com relação a tudo o que dele faz parte.
Não consigo acreditar que sejamos os eleitos, que ao fim e ao cabo seremos poupados de algo que nos aniquilaria; não acredito em hierarquias do Universo. Não sou de cogitar sobre um suposto pós-vida. Estou aqui, estamos aqui: essa é a ventura, esse é o privilégio.
Não fico meditando acerca de um pós-vida: a natureza já nos presentou com o sermos. Ainda encaro a vida como um presente que recebemos, a despeito do que a humanidade fizemos com esse presente. O que nos aflige, o que nos acontece de ruim, seja criado por nós, seja vindo de fora, não vejo como punição de algum deus ou como maquinação de algum demônio.