quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

PERGUNTAS

Sou pequeno demais 
para as perguntas 
que faço a mim mesmo.

Não me preocupo 
quando não as respondo: 
eu me preocupo 
quando não as faço.

Sigo vivendo e 
me perguntando. 
De vez em quando 
suspeito de 
uma resposta. 

A todo momento, 
esbarro numa pergunta.
A vida tem o formato
de um ponto de interrogação.

A vida tem o formato 
de um ponto de interrogação? 

OPINIÕES, OPINIÕES, OPINIÕES...

A internet dá a todos a liberdade de opinar. Isso é ótimo, pois  assim  pode--se tomar conhecimento das ideias de gente que não está em algum grande meio de comunicação. Quem trabalha para esses meios nem sempre pode dizer, quando trabalha, o que pensa, sob pena de retaliação ou até perda de emprego.

O lado ruim da liberdade que a internet concede é que gente que nada entende de determinado assunto se arvora em opinar sobre ele; não raramente, até cobram de quem não opina, não se dando conta de que nem sempre as pessoas querem opinar e se esquecendo de quem nem sempre as pessoas têm opinião.

Quem não opina, dizem, não é cidadão de verdade. É como se estivessem apontando o indicador, dizendo: “Reparem: aquele ali não se posicionou; preferiu ficar em cima do muro, preferiu não se envolver, assumindo um posicionamento confortável”.

Não estou fazendo apologia à pasmaceira nem ao não engajamento: a proliferação de opiniões é melhor do que o cerceamento das mesmas. Só que é preciso entender que o fato de alguém não opinar publicamente não significa que esse alguém não tenha opinião nem que esse mesmo alguém não atue de outros modos. 

Há muito do que chamo de engajado de rede social. Engajamento assim pode soar ora ingênuo, ora ridículo: compartilhar fotinhas de contraventores no Facebook e dizer que se é contra a corrupção não é engajamento — é truísmo e ingenuidade.

Quem opina demais acaba opinando sobre o que não entende. Além do mais os que conclamam outros cidadãos a também opinarem demais precisam entender que há diferentes formas de engajamento, que há pessoas as quais não estão a fim de opinar em público, o que não significa serem alienadas.

Há quem, sensatamente, prefira opinar sobre aquilo que conhece, em vez de ficar dando pitaco sobre aquilo de que nada entende. Não nos esqueçamos de que quanto mais se conhece, mais difícil pode ser emitir uma opinião; do outro lado da moeda, quem não sabe nada às vezes se sente à vontade para opinar sobre tudo.

Ser atuante em redes sociais ou tornar público tudo o que se pensa não significa necessariamente ser uma pessoa politizada. Não divulgar o que se pensa não implica alienação. Ser opinioso não implica conhecimento sobre o assunto de que se fala. Além do mais, a internet não é o único veículo para opiniões.

O García Márquez disse que em sua juventude achava ser obrigação de todo escritor o engajamento; com o passar do tempo veio a pensar, segundo ele, que o único dever de um escritor é escrever bem. Opinar demais não é a única forma rica de se estar no mundo.

PELO CERRADO