Desde tempos imemoriais, gosto de intertextualidades: aquela coisa de uma canção que nos remete a um livro; de um filme que nos remete a uma pintura... Chego a suspeitar de que gosto tanto da intertextualidade porque ela acaba por revelar, em última instância, que, em essência, somos os mesmos.
Recentemente, escutando “Time to pretend”, do MGMT, eu me lembrei de “Babylon”, do Zeca Baleiro. Ambas têm em comum um eu lírico a devanear, imaginando-se numa realidade que não é a sua, num mundo que não está materializado, mas que habita a imaginação. Nesse devaneio, os excessos que o dinheiro pode comprar estão ao alcance.
Uma diferença entre as letras é que na do Zeca Baleiro há um instante em que o eu lírico cai na real (ainda que depois volte a devanear), assumindo que o mundo charmoso e sedutor que vinha concebendo não existe para ele: “Não tenho dinheiro / Pra bancar a minha droga / Eu não tenho renda / Pra descolar a merenda”. Na letra do MGMT, o devaneio está em toda a letra.
A canção do MGMT causou certa polêmica; houve quem dissesse que a letra fazia apologia a um modo de vida destrutivo. Não a entendo assim; encaro a letra como “mero” devaneio de alguém que sonha com o universo do estrelato, o qual pode parecer tão sedutor para nós, que não vivemos nele. Vislumbrado de longe, esse universo pode ser tudo com que alguém sonha.