A edição 138 da revista Piauí tem um (excelente) texto de Michel Laub intitulado “Notas sobre o fígado”. O artigo é sobre os bastidores dos prêmios literários no Brasil. Num trecho, Laub escreve: “Segundo um juiz habitual de prêmios no país, quando há debates para se chegar a um consenso, a melhor coisa para um livro é ter um defensor ‘agressivo’, pois isso constrange quem precisa argumentar contra’”.
Quem já conviveu em grupo sabe que defensores agressivos de fato constrangem, intimidam, não importa se no trabalho, se em família, se numa conversa de bar, se em redes sociais. A sutileza não tem espaço; o ruído que ela faz é solapado pelos decibéis da retórica sem conteúdo mas dita em volume alto.
Saber quando calar e quando falar é arte difícil e ligada a questões pessoais. Não bastasse, ainda que maduros, ainda que experientes, é comum falarmos e depois nos arrependermos ou não falarmos e depois nos arrependermos. Mesmo sendo difícil lidar com esse equilíbrio entre silêncio e palavra, a sutileza não pode ser abandonada quando optamos por dizer.
Quem fala alto ou quem grita convence muitos, quem vocifera se impõe diante de turbas animalescas. Sempre foi moeda corrente as pessoas deixaram-se levar não pelo conteúdo de algo, mas pelo modo tosco como esse algo é dito. O mundo é um lugar inóspito para a elegância, para a ponderação. Bons modos convencem poucos; isso não quer dizer que devamos abrir mão deles.
Ponderação ou sutileza não deveriam se calar. Os barulhentos sabem que não precisam de ideias, mas quem as tem não deveria deixar de expô-las. Não na esperança de convencer os que se deixam levar por quem rosna nem na expectativa de fazer os ruidosos mudarem as práticas. A elegância da expressão não deveria se calar porque elegância é sintoma de humanidade e de inteligência.
Essas são duas coisas que nunca estiveram na moda, mas são viáveis, possíveis, fazem parte do que há em ser gente. Elas existem; em nós, o que existe, se existe mesmo, quer se manifestar, quer ser. Quem oferece a truculência age assim porque é o que tem a oferecer; aquele que tem a elegância não deveria deixar de ofertá-la. Além do mais, exercer a elegância que se tem é, antes de tudo, um dever da pessoa para consigo mesma. No que diz respeito à convivência, há quem atribua charme no silêncio, sem se dar conta de que a expressão pode ser sedutora.