domingo, 11 de março de 2018

Árvore

Epitelial

Carregarás em tua pele
a lembrança do que sou.
Mais precisamente,
do que sou quando 
estou contigo.
Só contigo sou marcante. 

Na gráfica e no estádio

Embora eu não concorde com o modo como os torcedores protestaram contra a Globo, recentemente, em jogo entre Santos e Corinthians, entoando "Globo, vai tomar no c*", claro que partilho do sentimento contra a emissora, mesmo sem saber até que ponto esse sentimento era genuíno nos quase quarenta mil torcedores que xingaram o canal em partida que ele estava transmitindo; mesmo assim, suponho que o "cântico" era genuíno em alguns. Não concordo com a maneira (mandar tomar no c*), mas concordo com a essência.

De modo análogo, não concordo com a invasão realizada hoje pela manhã no parque gráfico do jornal O Globo, no Rio. Uma das razões alegadas para a invasão foi a defesa da democracia, mais uma vez atacada pela Globo e seus sinistros tentáculos no golpe de 2016. Vale lembrar que, sintomaticamente, a Globo surgiu no ano de 1965, um ano depois do golpe da década de 60. Nesse golpe, nem jornal O Globo nem militares nem demais partidários do saque contra o Brasil se preocuparam em espargir nele ares de legalidade, o que fizeram em 2016.

Mesmo eu não concordando com o modus operandi de hoje no jornal O Globo nem com o de dias atrás no Pacaembu, no jogo entre Santos e Corinthians, ambas as manifestações deixam claro que o rebanho subjugado pela Globo, mesmo ainda sendo gigantesco, tem oponentes que sabem do quanto o canal asfixia e mata o Brasil. Havendo conscientização e não havendo canalhice, o caminho natural é ser contra a Globo, seja de que modo for.

A nota surreal do dia de hoje ficou por conta da Abert (Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão), da Aner (Associação Nacional de Editores de Revistas) e da ANJ (Associação Nacional de Jornais), que divulgaram texto condenando os que, segundo as associações, "são incapazes de conviver em ambiente democrático". Esse pessoal não é imbecil. Defender o grupo Globo, alegando princípios democráticos a favor de um conglomerado que vive sacaneando os brasileiros é ser hipócrita e partidário dessa sacanagem. 

O que a escola faz

Muito se fala sobre o papel da escola, sobre o que ela deve fazer, o que não deve fazer, a quem deve prestar contas... Quem muito fala sobre a função da escola geralmente prefere deixar de lado a importante noção de que a escola tem limites e de que nem tudo é obrigação dela. Querem exigir cada vez mais do ensino, no mais das vezes não dando a ele aquilo de que ele necessita para realizar o trabalho que a ele compete, sem levar em conta que não é obrigação dele preparar para tudo nem ser responsável pelo que o cidadão vai fazer depois de não mais frequentar uma escola — ou pelo que ele vai fazer quando o horário de aula termina e ele toma as ruas.

Quando alguém incorre em erro de português, é lugar-comum culparem as escolas por a pessoa não escrever corretamente segundo a gramática; se alguém não sabe fazer uma simples regra de três, a culpa é da escola. Já afirmei anteriormente haver professores que se jactaram de nunca terem lido um livro depois de terminarem a faculdade: a escola tem imperfeições porque é feita por imperfeitos. Mesmo assim, não é justo culpá-la pelas mazelas intelectuais do país.

Sou testemunha de que a escola tem ensinado. Se o ensino não é eficaz enquanto a pessoa ainda está em sala de aula, os menos responsáveis por essa ineficácia são os professores. Não bastasse, boa parte das pessoas, depois de terminarem o período em que tiveram de ficar em salas de aula, entregam-se a uma preocupante indolência intelectual. Na expressão mais visível dessa apatia mental, qualquer texto que tenha cinco linhas é textão, qualquer frase que comece a exigir um pouco de concentração é abandonada. Há muitos não interessados em alguma atividade intelectual.

Não há como a escola reger em totalidade nem as vidas dos que ainda frequentam salas de aulas; exigir dela que o cidadão adulto domine um conhecimento de que ele pode nem ter feito questão enquanto estava em sala de aula e de que não faz questão agora que não tem de se sentar e assistir a alguém lecionando é exigir desonestamente da escola. Eu citaria miríadas de professores que ensinaram e ensinam a diferença entre “mas” e “mais” ou que ensinaram a calcular porcentagens ou que ensinaram como se dá a fotossíntese. Contudo, se o cidadão que não mais frequenta um ambiente escolar está mais preocupado em postar fotos exibindo armas de fogo, não há nada que a escola possa fazer. Por ele, o que ela podia fazer, ela já fez.