quarta-feira, 28 de maio de 2014

A SENHORA E O MÉDICO

Desde quando escrevi sobre o atendimento mal-educado e incompetente que parte dos médicos têm prestado, muitas pessoas têm me contado sobre o que têm passado nos hospitais de Patos de Minas. Há histórias para todos os gostos — de horripilantes erros médicos a históricas deselegâncias.

Há pouco, fiquei sabendo do caso de uma senhora que estava passando mal; não vislumbrando outro recurso, foi a um hospital da cidade, lá chegando por volta de 22h. O médico foi quem iniciou o diálogo entre os dois, dizendo: “Não sei se isso são horas de passar mal”.

Nesse caso, senhora, o médico está certo. É obrigação saber que qualquer ser humano sensato não passa mal às 22h, hora em que os médicos já não mais estão exercendo o ofício. Nessa hora, já estão em casa, descansando — o repouso, a propósito, é recomendado por qualquer profissional da saúde.

Numa próxima, tenha algum senso; escolha um horário mais apropriado quando for passar mal. Sugiro os seguintes: entre 10h e 11h ou entre 14h e 15h. O horário entre 10h e 11h poupa os médicos de terem de levantar muito cedo, permitindo a eles reporem a energia despendida no dia anterior; o horário entre 14h e 15h não atrapalha o almoço nem impede o lanche da tarde, de modo que os médicos possam repor a energia gasta nas horas anteriores. 

Além do mais, passando mal nos horários que recomendo, a senhora não vai fazer com que o médico tenha de sair do lar para atendê-la. É inconveniente para qualquer profissional ter de sair de casa para trabalhar fora do horário estipulado. Ainda que o médico esteja de plantão, digamos, à noite, procure não incomodá-lo. Afinal, é notório que a noite não foi feita para que passemos mal. É no mínimo falta de ética não seguir esse preceito.

A rigor, é um acinte passar mal às 22h, senhora. A medicina tenta aliviar os sofrimentos do homem. Ora, como um médico poderá exercer tão nobre tarefa se os pacientes não colaboram?! Para que um médico tente aliviar o sofrimento de alguém, ele, médico, precisa de alívio. Portanto, não seja um fardo para a medicina.

O mundo já está cheio de pessoas que se esqueceram da cordialidade, da gentileza. Se a senhora não pode ajudar, sendo mais compreensiva, mais recatada, mais solidária, tente pelo menos não atrapalhar quem está trabalhando — ou quem não está trabalhando. Tente não ser um fardo; tente ser menos molenga. 

CLÃ

Neta de João Havelange, filha de Ricardo Teixeira. A moça vem de estirpe “nobre”. O que tinha para ser dito já foi, Joana.