domingo, 6 de dezembro de 2015

APONTAMENTO 297

Quando se ama, qualquer palavra ou manifestação vinda do ser amado assume significado transcendental. O que vem do ser amado eleva, por mais banal que seja. Um “bom-dia” via celular, um doce, o simplesmente estar perto de quem tanto se quer. A voz, a pele, o som da risada, o jeito de caminhar, os gestos, os talentos. As coisas que compõem o que a pessoa é significam demais para quem contempla; diante do ser amado, pacifica-se, agita-se, sonha, perde-se; longe dele, pacifica-se, agita-se, sonha, perde-se, comprazendo-se no desassossego. Quem ama quer falar do amor que sente. Se não pode fazê-lo, quanto mais se cala, mais sente necessidade de manifestar o amor sentido. Quando conversa com alguém, quer achar um modo de falar nem que seja o nome de quem se ama, pois é sempre gostoso pronunciar o nome de quem se ama. 

VASCO NA SÉRIE B

O Vasco é grande, é maior do que qualquer cartola, mas, neste momento, tem o tamanho de seu presidente. 

APONTAMENTO 296

Nunca nutri grandes esperanças nem quanto à humanidade nem quanto aos desígnios da vida, se é que os há. Há em mim um intenso sentimento de resignação; todavia, do outro lado da moeda, um intenso desejo de rebeldia. Eu me rebelo contra, para me valer de uma expressão do Drummond, o “sistema de erros” do mundo, mesmo sem nutrir expectativas quanto à mudança de atitude na pequenez do homem. Essa minha inútil rebeldia convive com a profunda certeza de que nada vai mudar. Se mudar, será para pior. Mas sei que minha rebeldia não se calará. Ela não deixa de ser uma espécie de esperança. Inútil. Mas esperança. É paradoxal, mas é assim. Apesar de minha resignação, eu me rebelo, também numa tentativa de me sentir mais próximo de outros que já se rebelaram. Minha rebeldia é meu jeito de ter esperança, ainda que uma esperança estranha. Minha rebeldia é meu modo de não me render à insanidade. 

ZUM NO TITO




Para estas fotos do Tito, meu cachorro, decidi me valer de uma técnica chamada de “zooming”: aumenta-se o tempo de exposição, baixando-se a velocidade; a seguir, enquanto se aperta o obturador, move-se a lente, lidando com o zum dela, seja aproximando-se do assunto, seja afastando-se dele. É possível brincar bastante com a técnica.