domingo, 6 de dezembro de 2015

APONTAMENTO 296

Nunca nutri grandes esperanças nem quanto à humanidade nem quanto aos desígnios da vida, se é que os há. Há em mim um intenso sentimento de resignação; todavia, do outro lado da moeda, um intenso desejo de rebeldia. Eu me rebelo contra, para me valer de uma expressão do Drummond, o “sistema de erros” do mundo, mesmo sem nutrir expectativas quanto à mudança de atitude na pequenez do homem. Essa minha inútil rebeldia convive com a profunda certeza de que nada vai mudar. Se mudar, será para pior. Mas sei que minha rebeldia não se calará. Ela não deixa de ser uma espécie de esperança. Inútil. Mas esperança. É paradoxal, mas é assim. Apesar de minha resignação, eu me rebelo, também numa tentativa de me sentir mais próximo de outros que já se rebelaram. Minha rebeldia é meu jeito de ter esperança, ainda que uma esperança estranha. Minha rebeldia é meu modo de não me render à insanidade. 

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