segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

Fotopoema 384

"Os três porquinhos"

À medida que o tempo vai passando, percebo que minhas leituras vão se voltando para autores ou temáticas que já me atraíam na infância e na adolescência. A continuar assim, caso eu chegue, por exemplo, aos oitenta anos, vou estar lendo nesse tempo “Os três porquinhos”. 

Aeromoça

Queria novos ares.
Após uma noite tranquila,
acordou cheia de aeroplanos. 

Minha convivência com Rabindranath Tagore

O livro não tem mais capa. É o quarto volume (o único que tenho) de uma série intitulada “As mais belas poesias”. A organizadora é Niza Carvalho. A edição que tenho não tem as duas últimas páginas.

Foi nesse pequeno volume, o qual tenho agora em mãos, em que li, pela primeira vez, o nome Rabindranath Tagore (1861-1941), poeta indiano, prêmio Nobel em 1913. Quando passei a lidar com o “As mais belas poesias”, eu devia ter uns sete ou oito anos. A primeira coisa que me chamou a atenção não foram nem tanto os dois poemas dele que estão na coletânea, mas o nome de Tagore.

Mesmo hoje, não sei como se pronuncia corretamente esse nome. Na infância, eu o ficava lendo em voz alta, gostando da sonoridade que eu mesmo criava. À parte isso, “As mais belas poesias” foi um livro muito importante para mim, bem como os volumes de “As mais belas histórias”.

Tanto um quanto o outro eram ilustrados. Como eu me lembro de tentar desenhar essas ilustrações. Como desenhista, um fiasco, mas se eu tiver de mencionar circunstâncias que me tornaram leitor, não posso deixar de mencionar essas obras. Posteriormente, na adolescência, eu voltaria a Tagore, dessa vez lendo um livro que traz conversa entre ele e o Einstein. Recentemente, voltei ao indiano. Li “Gitanjali — Oferenda lírica” e “Meditações”.

Este foi publicado pela Ideias e Letras; a tradução é de Ivo Storniolo. “Meditações” contém ensaios em que se condensam boa parte das ideias do poeta. Nos textos do livro, Tagore reitera diversas vezes o caráter religioso que perpassa seus atos e seus pensamentos. À parte a religiosidade, é um livro com muito a dizer para o século XXI. As ideias de Tagore propõem o desapego das coisas mundanas; até aí, nada de original. Mas ao realizar sua proposta, o escritor não deixa de evidenciar o quanto a vida moderna nos esmaga, matando nossa criatividade e nosso potencial inventivo.

No primeiro ensaio, intitulado “Natureza da arte”, ele escreve: (...) “A burocracia trata de generalizações, e não de homens. E, portanto, não lhe importa incorrer em crueldades da pior espécie”. Não bastasse ter sido crítico contumaz deste mundo cheio de papéis e de regras que assassinam nosso espírito criador, Tagore, a despeito de sua religiosidade, passa longe de radicalismos desarrazoados. Ainda no “Natureza da arte”, tem-se: “Em nome da religião foram consumados crimes que esgotariam todos os castigos do inferno, porque em seus credos e dogmas a religião aplicou um enorme anestésico sobre boa parte dos sentimentos da humanidade”.

Importante reafirmar que o escritor não foi um iconoclasta. Pleno de uma conduta de espírito oriental, Tagore reitera nos ensaios a postura religiosa de que nunca abriu mão, seja discutindo sobre a arte, seja expondo ideias pedagógicas (caso, por exemplo, do ensaio “Minha escola em Bengala”). Desnecessário dizer que os adeptos da espiritualidade oriental, que Tagore contrapõe à ocidental, têm no poeta terreno fértil para suas meditações. Todavia, se devidamente lido, Tagore tem muito a ensinar para todos; principalmente para nós, tolos velocistas de um progresso ilusório e castrador de nosso potencial criativo. 

BEAUTIFUL MONDAY

O dia amanheceu muito bonito. Eu até me lembrei daquela canção, “Beautiful Sunday”, cantada pelo Daniel Boone (há uma versão em português interpretada pelo Ângelo Máximo). 

Sim, hoje não é domingo, mas a natureza não sabe que é segunda-feira. A natureza pode gerar um céu de azul bonito numa terça ou numa quinta. Cantemos com o Daniel Boone. Se for o caso, substituamos “Sunday” por “Monday”.