Tenho fotografado a fauna e a flora do Cerrado desde 2004. De algumas espécies, aprendi, mediante observação, alguns hábitos. O fotógrafo de natureza acaba se tornando uma espécie de etólogo amador; a etologia estuda o comportamento dos animais.
A vida dos tucanos não é fácil. Algumas pessoas matam essas aves, sob a justificativa de que elas se alimentam de ovos e de filhotes de outras espécies. Se por um lado isso é verdade, por outro, deveria haver a compreensão de que os tucanos não comem os filhotes de outras aves por maldade; eles não deveriam ser mortos por obedecerem ao ciclo da natureza.
Nesse caso, a maldade atribuída a eles é, na verdade, de quem os mata. Além do mais, conforme o que tenho observado ao longo dos anos, os tucanos sofrem perseguições severas de tesourinhas e de bem-te-vis. Repare no voo dos tucanos; você perceberá que muito frequentemente são acossados por outras aves, as quais, por certo, estão preocupadas com suas crias.
Não bastassem esses certames por que passam os tucanos, há uma espécie em Minas Gerais que padece de outros problemas. A ave não foi ainda devidamente catalogada por cientistas; sabe-se, em contrapartida, que o espécime mineiro tem por hábito censurar e atacar quem dele discorda.
Pesquisadores já entenderam que um dos estratagemas da espécie é se fazer de vítima. Diz que é atacado; a seguir, ataca. Os que estudam esse tipo de tucano afirmam que essa retórica passou a ser adotada quando a ave percebeu que nem todo mundo em Minas Gerais (e no Brasil) é lacaio de seus caprichos e pitis.
Há uma reação que não presenciei, mas é algo que já me foi relatado por colegas fotógrafos: quando confrontado ou criticado, a ave, em vez de argumentar, eriça as penas, arvora-se, infla-se de aparente senso de justiça e processa quem dele discorda. Depois, segundo colunistas sociais cariocas, o tucano vai para o Rio de Janeiro. De acordo com biólogos, esse comportamento deve ocorrer pelo fato de o tucano não se adaptar bem com a suposta pacatez das noites mineiras.
Há estudiosos que não descartam a possibilidade de que a espécie tem agido com estardalhaço por se sentir ameaçada nos combates em que depende da aprovação de terceiros. Seria, ainda de acordo com os eruditos, uma cartada desesperada para não ser preterido de vez. Nada disso, contudo, está provado.
Enquanto isso, cientistas e fotógrafos continuam observando a criatura. Trabalhando em conjunto, vão, aos poucos, organizando os dados. Os profissionais concordam que em breve ter-se-á uma noção mais ampla da espécie. Do que foi analisado até agora, já foi deduzido que o tucano pesquisado abomina sobrevoar trechos de Serra.