quinta-feira, 27 de março de 2014

"O DUBLÊ DO DIABO"


De antemão, digo que aquela coisa de o George W. Bush se referir a países como o Iraque como sendo um dos integrantes do “eixo do mal” é retórica barata e maniqueísta. Num texto publicado em seis de junho de 2006, depois de os EUA capturarem Saddam Hussein, o genial e ousado Robert Fisk, do jornal The Independent, escreveu sobre a hipocrisia que era enforcar Hussein.

Na terça-feira, procurando por algo para assistir em torno de 22h, leio a sinopse de “O dublê do diabo” [The devil’s double], de 2011. A direção é de Lee Tamahori. Michael Thomas escreveu o roteiro, que por sua vez é baseado em livro de Latif Yahia. Ele, Yahia (interpretado por Dominic Cooper), é o personagem principal do filme, baseado em fato real.

Nascido em 1964, Yahia, filho de um bem-sucedido empresário, teve como colega de sala Uday Saddam Hussein (também interpretado por Dominic Cooper), filho do futuro Presidente iraquiano. Ainda na escola, a semelhança de Yahia com Hussein, o filho, já era notada. Precisamente essa semelhança tornar-se-ia uma maldição para Yahia, que se vê obrigado a assumir o papel de sósia de Uday Saddam Hussein.

Depois de ter sido submetido a sessões de tortura e de terem dito a ele que se ele não topasse ser o sósia a família dele sentiria as consequências da recusa, não haveria alternativa a Yahia a não ser aceitar o que lhe impuseram. No olho do furacão, ele presenciava as insanidades e desumanidades de Uday Saddam Hussein.

Os eventos pelos quais Latif Yahia passou foram relatados em livros, numa trilogia que tem os seguintes títulos: “I Was Saddam's Son” [Eu fui filho de Saddam], “The black hole” [O buraco negro] e “Forty shades of conspiracy” [Quarenta tons de conspiração]. O filme de Tamahori é baseado no primeiro volume da trilogia de Yahia.

Se por um lado não é exagero, de acordo com o que é mostrado no filme de Tamahori, adjetivar o comportamento de Uday Saddam Hussein como sendo diabólico, há que se tomar o cuidado de não se esquecer das atrocidades que os EUA e seus aliados perpetraram para tirar Saddam Hussein do poder.

Interessei-me pelos livros de Latif Yahia. Se você gosta de se envolver em causas humanitárias, há um motivo para que você os adquira: Yahia doa todos os direitos autorais decorrentes das vendas dos livros para as crianças iraquianas que ficaram órfãs depois que uma guerra no Iraque foi deflagrada pelos EUA em 2003. 

VINTE E SETE DE MARÇO


Se vivo estivesse, o senhor Renato Manfredini Júnior, o Renato Russo, completaria hoje cinquenta e quatro anos. É por isso que posto uma canção do Legião Urbana. Era uma das preferidas do Renato, conforme o que ele dizia nos shows.

No dia vinte e nove de agosto de 1992 conferi um show da banda em Uberlândia, no UTC. Tendo chegado cedo à cidade, fui para um dos hotéis em que os legionários poderiam estar. Chegando lá, fiquei sabendo que estariam em outro hotel, que fica perto. Fui para lá e fiquei aguardando. Quando a banda chegou, tive a oportunidade de pegar o autógrafo do Renato Russo.

Ele era baixo, muito magro. Foi muito atencioso conosco, os que ficamos o aguardando na porta do hotel. Perguntei para ele se ele se lembrava de ter tocado em Patos de Minas. Ele me olhou com cara de espanto e me perguntou se eu estava no show; eu disse que não estava, e completei dizendo que eu tinha onze anos na época. Ele então brincou: “Poxa, estou ficando velho”. Infelizmente, não ficou.