De antemão, digo que aquela coisa de o George W. Bush se referir a países como o Iraque como sendo um dos integrantes do “eixo do mal” é retórica barata e maniqueísta. Num texto publicado em seis de junho de 2006, depois de os EUA capturarem Saddam Hussein, o genial e ousado Robert Fisk, do jornal The Independent, escreveu sobre a hipocrisia que era enforcar Hussein.
Na terça-feira, procurando por algo para assistir em torno de 22h, leio a sinopse de “O dublê do diabo” [The devil’s double], de 2011. A direção é de Lee Tamahori. Michael Thomas escreveu o roteiro, que por sua vez é baseado em livro de Latif Yahia. Ele, Yahia (interpretado por Dominic Cooper), é o personagem principal do filme, baseado em fato real.
Nascido em 1964, Yahia, filho de um bem-sucedido empresário, teve como colega de sala Uday Saddam Hussein (também interpretado por Dominic Cooper), filho do futuro Presidente iraquiano. Ainda na escola, a semelhança de Yahia com Hussein, o filho, já era notada. Precisamente essa semelhança tornar-se-ia uma maldição para Yahia, que se vê obrigado a assumir o papel de sósia de Uday Saddam Hussein.
Depois de ter sido submetido a sessões de tortura e de terem dito a ele que se ele não topasse ser o sósia a família dele sentiria as consequências da recusa, não haveria alternativa a Yahia a não ser aceitar o que lhe impuseram. No olho do furacão, ele presenciava as insanidades e desumanidades de Uday Saddam Hussein.
Os eventos pelos quais Latif Yahia passou foram relatados em livros, numa trilogia que tem os seguintes títulos: “I Was Saddam's Son” [Eu fui filho de Saddam], “The black hole” [O buraco negro] e “Forty shades of conspiracy” [Quarenta tons de conspiração]. O filme de Tamahori é baseado no primeiro volume da trilogia de Yahia.
Se por um lado não é exagero, de acordo com o que é mostrado no filme de Tamahori, adjetivar o comportamento de Uday Saddam Hussein como sendo diabólico, há que se tomar o cuidado de não se esquecer das atrocidades que os EUA e seus aliados perpetraram para tirar Saddam Hussein do poder.
Interessei-me pelos livros de Latif Yahia. Se você gosta de se envolver em causas humanitárias, há um motivo para que você os adquira: Yahia doa todos os direitos autorais decorrentes das vendas dos livros para as crianças iraquianas que ficaram órfãs depois que uma guerra no Iraque foi deflagrada pelos EUA em 2003.