A canção vem de longe, mas não de longe o bastante a ponto de ser impossível distingui-la. Depois de pular o muro e passar pela porta da sala, a melodia chega ao cômodo em que estou. Chega quase inaudível, quase como se estivesse em um sonho; chega um tanto imprecisa. Sei que há acordes, mas não presto atenção neles. De repente, minha atenção se volta para os sons que já duravam um minuto ou dois: a canção que me visitou foi “Mississippi”, com a banda holandesa Pussycat. Tendo-me entusiasmado, procurei pela faixa em meus arquivos de música; estou agora berrando para todo o planeta escutar: “Miiiiiiiiiiiiiiiiiiiissiissiiiiiiiippiiii”...
sábado, 6 de setembro de 2014
"MISSISSIPPI"
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O RACISMO E O POLITICAMENTE CORRETO
Casos como o de Patrícia Moreira trazem à tona o debate sobre o racismo no Brasil. Ela xingou o Aranha, goleiro do Santos, de “macaco”. Em depoimento à polícia, Patrícia admitiu o xingamento, mas alegou que não teve a intenção de ser racista; ontem, durante declaração para a imprensa, em “choro” sem lágrima, voltou a dizer que não era racista. Patrícia pode responder por injúria racial; além dos xingamentos dela, há fotos antigas nas quais ela aparece em atitude preconceituosa, segurando um macaco de pelúcia vestido com a camisa do Internacional, e fazendo cara de nojo, segundo o divulgado pelo UOL.
O Grêmio foi excluído da Copa do Brasil em virtude do “espetáculo” estrelado por Patrícia e por outros gremistas. Mesmo o clube tendo colaborado com a polícia, está fora do torneio (é possível haver recurso contra a decisão). O caso, melindroso por si, ganhou mais um elemento: um dos auditores do caso que excluiu o time gaúcho é investigado pelo STJD, o Superior Tribunal de Justiça Desportiva, de ter sido racista no Facebook. O nome dele é Ricardo Graiche. Em 2012, Graiche teria realizado postagens em que havia preconceito contra negros. Ele deletou a conta no Facebook depois da repercussão do caso, também informa o UOL.
À parte o que fizeram Patrícia e outros gremistas no estádio, e à parte o que foi noticiado sobre Ricardo Graiche, escutei um conhecido meu dizendo, sobre o caso ocorrido lá em Porto Alegre, no jogo em que o Aranha foi xingado de “macaco”: “Essa patrulha do politicamente correto... Nem se pode mais xingar o sujeito de macaco”. De fato, existe por aí o patrulhamento do politicamente correto, e que é de fato muito chato; às vezes, é até hipócrita — a pessoa canta o hino nacional com aparente fervor (atitude politicamente correta), mas, na surdina, locupleta-se com dinheiro público.
O politicamente correto é aparência, não é essência. Fantasiado de bom--mocismo, passa ideia de correição. Ele sabe fazer pose e sabe iludir desavisados. É cheio de lugares-comuns, adora uma retórica cheia de clichês e adora poses de rapaz trabalhador e de moça casadoira. Embora eu já tenha dito, reitero: abomino o politicamente correto. Em contrapartida, xingar uma pessoa de “macaco” não é se rebelar contra o politicamente correto (rebelar-se contra ele é necessário); xingar alguém de “macaco” é atitude de quem quer ofender e é revelador do que uma pessoa pode estar pensando sobre alguém que é preto; o calor de uma partida de futebol não é pretexto capaz de dissimular a atitude de Patrícia e demais torcedores.
OS GATOS
Quem vê a fleuma
nem suspeita da flama.
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