O que eu conhecia do escritor uruguaio Mario Benedetti (1920-2009) era um poema ou outro. Há pouco, terminei de ler “O amor, as mulheres e a vida”, coletânea publicada pela Verus editora (braço editorial da Record), e traduzida por Julio Luis Gehlen. Como o título já antecipa, o amor é a temática dos poemas selecionados pelo próprio autor.
Benedetti abraça as conquistas do Modernismo em poemas curtos, de lirismo bem-humorado. Não raro, há espaço para questionamentos sociais: no poema “Acorda amor”, lê-se “os fundamentalistas degolam estrangeiros / prega o papa contra a camisinha / havelange estrangula maradona / (...) acorda amor / que o horror amanhece”.
Do que surge da coletânea, é o amor como possibilidade enriquecedora em meio a um mundo doido, e o humor como tempero do sentimento amoroso. No poema “Vice-versa”, o poeta escreve (com versos em minúsculas):
tenho urgência de te ouvir
alegria de te ouvir
boa estrela de te ouvir
e temores de te ouvir
ou seja
resumindo
estou ferrado
e radiante
talvez mais o primeiro
que o segundo
e também
vice-versa
Benedetti, no prólogo da coletânea, escreve que “o amor é um apogeu nas relações humanas”. O autor nos dá um belo testemunho do que é o amor na contemporaneidade. O velho amor, mudado em costumes, renovado na linguagem, mas amor. Os poemas de “O amor, as mulheres e vida” são um convite não só ao amor, mas à obra do escritor como um todo. Convite aceito.