segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

UM ALÔ

Hoje, fui levado a me lembrar de meu primeiro emprego. Eu tinha uns dez ou onze anos. Lembrando-me desse tempo, eu me lembrei de que a primeira vez em que falei ao telefone foi lá onde trabalhei nessa época, pois ainda não havia telefone aqui em casa.

O aparelho tocou e não havia ninguém por perto. Entrei em pânico, pois eu teria de atender. Nem me lembro se falei o nome da empresa ou um desajeitado alô. Quando a pessoa do outro lado começou a conversar, eu me embaralhei. Eu berrava que não estava entendo nada. A pessoa, por sua vez, com calma e paciência, tentava fazer com que eu entendesse a mensagem. Por fim, desistiu e desligou.

Voltei a trabalhar preocupado. Poderia ser alguma ligação importante. Talvez, o pedido de algum cliente... Assim que meu chefe voltou, disse que foi ele quem havia ligado. Gelei. Contudo, ele pareceu ter, sim, achado graça da situação. Enquanto comentava que havia sido ele quem ligara, estava sorrindo.

Naturalmente, ele foi meu primeiro patrão. Trabalhei para ele até mais ou menos os dezesseis anos, com algumas pausas. Compreensivo, sempre me liberava, sem queixas, para que eu pudesse freqüentar aulas de inglês. Hoje, por volta de 14h, fiquei sabendo que ele havia se suicidado no fim da tarde de ontem.

FESTIVAL MARRECO DE MÚSICA INDEPENDENTE

Conferi e apresentei ontem o Festival Marreco de Música Independente. O evento ocorreu no Galpão do Produtor, ao lado da rodoviária, tendo começado por volta de 14h30 e terminado por volta de 22h30. A organização foi da Peleja Criação Cultural.

Como parte da programação, houve do dia 15 ao dia 20/12 oficinas sobre música, consumismo e improvisação corporal. Também ocorreu oficina sobre como divulgar música independente em tempos de internet.

Janela Verde, de Patos de Minas, foi a banda que abriu o festival. O grupo tem baladas vigorosas e um pé no passado – com direito a órgão modelo SM44 na terceira música. A esse apelo antigo, visível também no figuro, juntou-se o peso da segunda parte do show.

A seguir, apresentou-se a banda Radiotape, de Belo Horizonte. Não fazem questão de esconder as influências do pop/rock inglês de meados da década de 90 para cá. O som da banda é pop e dançante. Mesmo quando decidem soar mais pesados, não abrem mão das agradáveis melodias.

O terceiro grupo a se apresentar foi a Banda 4, de Sabará. Vieram a Patos de Minas com uma proposta sui generis: apresentar música instrumental. O trabalho tem um clima soturno e, por vezes, pesado. Os arranjos e os climas criados pela banda lembram os momentos psicodélicos do rock progressivo.

A banda Seu Juvenal, de Uberaba, que veio a seguir, não poupou: apresentou um som cru, nervoso, agressivo. Letras com preocupações sociais eram cantadas de modo visceral pelo vocalista. Fizeram o deleite da galera que curte um rock mais rápido, direto e pesado.

Também de Uberaba, veio a banda Acidogroove, com seu ótimo som melodioso e levemente melancólico. A despeito dessa leve melancolia, têm um som pop – não no sentido pejorativo do termo, não no sentido de um pop bobo e artificial.

O antepenúltimo grupo a se apresentar foi o Barabizunga, de Patos de Minas. É um barato o quanto deixam claras as misturas que compõem o som da banda: samba, baião, pop e/ou rock. Tudo isso com o senso de humor de quem deixa, felizmente, a impressão de querer se divertir fazendo música.

Também de Patos de Minas, a banda Vandaluz levou ao palco seu show histriônico, teatral e mordaz. Irônicos e irreverentes, não poupam nem religiões nem ricos nem pobres. Poesias são declamadas, a indiferença é massacrada. Os fãs cantaram as músicas do CD “Ascende”.

A banda que encerrou o festival foi o Porcas Borboletas, de Uberlândia. Também têm o senso de humor como forte característica do trabalho. Ironia e teatralidade perfazem o som do grupo. Só para se ter uma idéia: passaram o som, voltaram para o hotel em que estavam e aguardaram que eu os chamasse para o show. Atravessaram correndo a rua, subiram no palco e começaram a tocar.

Terminada a apresentação deles, um monte de gente foi para o palco, a fim de celebrar a festa que se encerrava. Integrantes de várias bandas, o pessoal da organização e outros presentes finalizaram o vitorioso festival.

Acompanhei o evento em cima do palco. Pude ver de perto a animação e a garra com que o pessoal das bandas tocou. Chegavam entusiasmados e tocavam com vontade, mesmo quando o público ainda era pequeno, na primeira hora do evento.

Também gostei das várias vertentes apresentadas pelas bandas. Por fim, é sempre bom presenciar que o cenário independente tem produzido muito, revelando bandas ousadas e com ótima qualidade.

Aos organizadores, parabéns pela iniciativa. Organizar qualquer evento não é fácil. Organizar um evento voltado para a música independente é mais difícil ainda. Que essa tenha sido a primeira edição do Festival Marreco de Música Independente.