Acompanhei a carreira do Neto quando ele foi jogador de futebol. Jogou bola demais. Não gosto dele na TV. Bastaram duas ou três vezes para que eu nunca mais o acompanhasse como comentarista. Também não gosto das colunas deles no portal UOL. Mas estou ciente de que o estilo dele é mais do que apropriado e lucrativo para o que querem os contratantes.
Certa vez, assisti a uma matéria em que ele dizia que os jogadores de futebol, em boa parte, não sabem bater na bola porque não treinam... bater na bola. A matéria foi muito interessante. É que, de fato, chega a ser espantoso como alguns jogadores profissionais não conseguem sequer bater um escanteio corretamente. A “tese” do Neto é a de que falta a esses jogadores o treino.
Para corroborar sua ideia, ele, já gordo, pegou algumas bolas. Antes de chutá-las, anunciava o ponto em que iria jogá-las. O índice de acertos foi espantoso. (Obviamente, na edição, podem ter cortado os erros; ainda assim, a declaração dele de que os jogadores batem mal na bola porque não treinam é muito plausível.)
Não gostei do tom usado pelo Neto durante a matéria (bem como não gosto do tom dele em seu trabalho como comentarista na TV). Deixando isso de lado, foi bom assistir a alguém do mundo do futebol — alguém que batia muito bem na bola — falar esse tipo de coisa. Afinal, quando a gente assiste a qualquer partida por aí, chega a ser incrível o quanto os caras não sabem cruzar uma bola na área ao baterem falta ou escanteio.
Essa história me lembrou outra, que me foi contada recentemente pelo Alexandre Junio, um amigo. Em sua adolescência, Alexandre jogou futebol. Nessa época, foi treinado pelo Biro-Biro, que foi encontrado morto no dia 24 de setembro, aqui em Patos de Minas (ele atuou pela URT na década de 80). Biro-Biro estava desaparecido há dias, quando o corpo foi visto pelo caseiro de uma fazenda.
Segundo o Alexandre, Biro-Biro, em seus treinamentos, amarrava um pneu de bicicleta em diversos lugares dentro dos limites do gol e pedia que a bola fosse chutada exatamente dentro da circunferência formada pelo pneu. Quando o Alexandre me contou essa história, logo me lembrei da matéria com o Neto.
Se por um lado nem todo jogador tem a genialidade de um Garrincha, de um Tostão ou de um Messi, por outro, parece-me ser possível cruzar a bola mais ou menos onde se queira, desde que, claro, o profissional esteja disposto a aprender. Com ou sem pneu.