sábado, 4 de janeiro de 2014

OS VERSOS DE PELÉ

“Espero que o Brasil abrace a oportunidade que lhe foi dada com a Copa de 2014 e a Olimpíada de 2016. Queremos mostrar ao mundo nossos lados positivos: amor à vida, nosso espírito e um belo país. Incidentes como os que aconteceram na Copa das Confederações, quando um evento esportivo foi atrapalhado por protestos políticos, não deveriam ser permitidos de novo”.

A declaração acima é de Pelé; foi dada à revista da Fifa. Na mesma entrevista ele disse que o Chile é um dos favoritos para ser o campeão da Copa do Mundo no Brasil (sic). Sobre a brincadeira de que Pelé seria pé-frio, em 2013 uma campanha publicitária na Colômbia pedia que Pelé não mais apontasse o time colombiano como favorito; quando isso ocorreu, em 1994, a Colômbia foi eliminada na primeira fase.

Pelé foi cooptado pelos que mandam no futebol. Não sei se ele recebe por isso. Recebendo ou não, tem sido lamentável quando ele dá entrevista. O Romário, que hoje é deputado federal e já foi jogador, disse que “Pelé não tem consciência nenhuma do que está acontecendo no País”. Se não tem mesmo, isso seria mais um motivo para que ele, Pelé, ficasse calado quando o assunto fosse questões políticas e sociais.

O que levaria Pelé a ficar do lado de gente que está na Fifa e na CBF? Prefiro acreditar que ele não seja títere dos caciques que imperam no futebol; prefiro acreditar que ele não seja ingênuo a ponto de realmente acreditar que Fifa e CBF fazem bem para o País. Do que não faço ideia, é do que o levaria a dar declarações tão... sem senso de realidade. Será o dinheiro o que o leva a estar do lado das entidades que comandam o futebol? Será a vaidade?... Será que ele acha que proferir as bravatas de que é capaz significa ser patriota? Novamente, Romário: “O Pelé, calado, é um poeta”. 

RELÓGIO 5

"NOTA DE RODAPÉ"

Shlomo Bar-Aba e Lior Ashkenazi interpretam os personagens principais em “Nota de rodapé” (“Hearat Shulayim”), filme de 2011, lançado no Brasil em 2012. O diretor é Joseph Cedar, que também é o roteirista.

Bar-Aba interpreta Eliezer, que é pai de Uriel (Ashkenazi). Os dois são acadêmicos, são professores. Eliezer é um ressentido com o universo da academia por dela não receber o reconhecimento de que acha ser merecedor.

O filho, Uriel, em contrapartida, navega de êxito em êxito no mundo em que o pai é ignorado: vai se tornando claro que Eliezer se ressente também do sucesso do filho. Contudo, Eliezer é comunicado que havia sido escolhido para receber o Prêmio Israel, uma honraria na vida acadêmica do país. É quando Uriel tem de escolher entre a carreira que vinha levando e o apoio ao pai.

Se a relação entre Uriel e seu pai não vai bem, numa convivência em que os dois moldam uma civilidade que camufla ressentimentos e queixas mútuos, Uriel, por sua vez, não tem conseguido lidar bem com o filho adolescente que tem. Não bastasse esse imbróglio familiar, “Nota de rodapé” mostra o mundo de intriguinhas, egos inflados e pompa que existe também no meio acadêmico.

Não bastassem as temáticas universais com que lida, o que torna o filme saboroso é o senso de humor, a ponto de às vezes ele quase se tornar uma comédia desbragada. Mas o diretor e roteirista não errou no tom: o filme diverte, sem deixar de ser dramático; é denso, sem deixar de ser engraçado.

Cedar ironiza a família, o mundo da academia, o teatro social. Valendo-se de um núcleo judaico, o cineasta se universaliza na temática e na escolha por contar a história com uma dose bem generosa de senso de humor, sarcasmo e sátira.