A natureza é indiferente a nossas vidas. De nada adiantam mandingas, rezas, preces, orações, pedidos, apelos, superstições, rogos, prédicas, simpatias, súplicas. Diante das forças da natureza, pouco ou nada podemos fazer quando ela age com vigor. Ela não sabe se somos pios ou se somos ímpios. A natureza não sabe que deus (não) existe. O fervoroso morreu soterrado ao lado do ateu, que, vivo, seguiu; o ímpio foi levado pelas águas enquanto o religioso conseguiu se agarrar a um galho de árvore e sobreviver. Ela, mãe e esposa dedicada, chegou a tempo, embarcou, mas aves causaram a queda do avião; ele, negligente com a família, se atrasou para o voo fatal porque estava com a amante. Não importa para a natureza se somos éticos ou antiéticos, corruptos ou honestos, trabalhadores ou preguiçosos, sensatos ou antivacinas, burgueses ou andarilhos. Nossos códigos, convenções, moedas ou divisas não são levados em conta pela natureza, que segue, age, reage, com ou sem nós. Nosso controle sobre nossas vidas é uma ilusão, um fiapo. Não sabemos os desígnios, os mecanismos — se é que os há.