Jamais li um livro de ficção do Stephen King. Em minha juventude, eu me senti compelido a conhecer o trabalho do autor, depois de conferir uma entrevista com o Renato Russo em que o vocalista da Legião disse que era fã dos trabalhos do escritor americano. Mas o desejo de ler King não foi adiante.
Há coisa de uns seis meses, li um texto na revista The New Yorker em que se elogiava “Sobre a escrita” [On writing]. Desde então, fiquei muito curioso para fazer a leitura, que terminei há pouco. O livro é indispensável para quem gosta de escrever ou para quem se interessa pela carpintaria literária.
A tradução é de Michel Teixeira; a obra foi publicada pela editora Suma de Letras, braço editorial da Objetiva. É um livro que comove e que diverte. Li boa parte dele na rodoviária de São Paulo, enquanto aguardava o ônibus para Patos de Minas. Houve trechos que me deixaram com vontade de gargalhar e trechos que me encheram os olhos d’água. Não me senti à vontade, em público, nem para o choro nem para a gargalhada.
Stephen King é sucesso de público, não de crítica, a qual não raro o desanca. Esqueça a crítica e leia “Sobre a escrita”. Se por um lado não se pode ensinar alguém como escrever, por outro, isso não quer dizer que não haja atitudes a serem seguidas por quem deseja se dedicar ao ofício. É sobre isso que King escreve em seu livro.
Ele mostra o que há de prática e de prático nesse ofício. Ao falar de coisas como estabelecer metas de quantas palavras escrever por dia e de disciplina, o autor dessacraliza o ato da escrita, sem deixar de mostrar o que pode haver de mágico no envolvimento com as palavras.
O autor não abre concessões: o trabalho de escrever exige conhecimento do idioma, da gramática; exige estudo, leitura. Parecem coisas óbvias, mas é preciso que sejam ditas, para que não se suponha o escritor como alguém que recebe dos céus as bênçãos das musas. Ainda que tais musas existam, não virão sem o trabalho “braçal” de quem escreve.
“Sobre a escrita” é didático, sem ser professoral nem presunçoso. É um livro sobre o que fazer para se escrever, o que não quer dizer que é só fazer essas coisas para se tornar um grande autor. Há a intenção de ensinar, não como quem passa uma receita ou redige um manual.
É um livro generoso — de modo honesto, aberto, King compartilha com os leitores as miudezas, as dores e as alegrias do ato da escrita. Muitos preferem manter uma aura de pseudomistério quando se trata de escrever. King tem o bom senso de não cair nessas balelas. O livro está longe dos discursos dos gurus da autoajuda, que prometem sucesso em caso de determinada fórmula ser seguida. O livro não dá ao leitor um falso passe de mágica de como se tornar um mago das palavras, mas compartilha não só o pensamento de que é possível que ele, leitor, torne-se um escritor, mas também a delícia que pode ser alcançada quando se escreve.
É um livro generoso — de modo honesto, aberto, King compartilha com os leitores as miudezas, as dores e as alegrias do ato da escrita. Muitos preferem manter uma aura de pseudomistério quando se trata de escrever. King tem o bom senso de não cair nessas balelas. O livro está longe dos discursos dos gurus da autoajuda, que prometem sucesso em caso de determinada fórmula ser seguida. O livro não dá ao leitor um falso passe de mágica de como se tornar um mago das palavras, mas compartilha não só o pensamento de que é possível que ele, leitor, torne-se um escritor, mas também a delícia que pode ser alcançada quando se escreve.
Sem pedantismo, King enfatiza o óbvio que ou não é dito ou é maquiado: não há escritor sem trabalho e sem esforço. O autor, misturando ora sua vida pessoal e ora seus textos como exemplos, achou um tom no qual o que parece obviedade não soa como desrespeito à inteligência do leitor. Vale dizer ainda que um dos pontos altos do livro é a ênfase na ideia de que escrever é um trabalho como qualquer outro. Num texto fluente, é como se King tivesse desmontado os mecanismos ou as engrenagens que podem fazer de alguém um escritor.