quinta-feira, 26 de março de 2015

RECEITA

Tenho os condimentos.
Tenho o modo de preparo. 
Tenho os continentes.
Não ficou gostoso.

O ingrediente que falta,
não achei no Google: 
falta-me ao menos
uma colher de talento. 

FUTEBOL: CONSIDERAÇÕES

No futebol, o que é jogar melhor? Depende do critério que se adote. Um time pode criar mais chances do que o adversário, mas não ser vitorioso. Criam-se oportunidades; contudo, tais oportunidades não se transformam em gol. Esse time jogou melhor do que o rival?...

Um time corre, cria, acerta a trave, obriga o goleiro adversário a defesas literárias; o outro passa aperto, dá chutão, vira-se como pode. Terminada a partida, o time que pressionou, que acertou a trave e que obrigou o goleiro oponente a se esticar pode sair derrotado.

Uma das ironias e um dos baratos do futebol é isto: o time mais fraco pode derrotar o mais forte, o time que mais cria não é inevitavelmente o vitorioso. Pergunto: numa partida qualquer, quem jogou melhor: o time que saiu vencedor ou a equipe que mais pressionou e mais criou chances?

Arrisco resposta. O futebol comporta o paradoxo de que jogar melhor é uma coisa, ser eficaz é outra. Ser eficaz não é o mesmo que ser melhor do que o adversário. O time A pode jogar melhor do que o time B; o time B pode ser mais eficaz do que o A. Uma partida de futebol é vencida não necessariamente pelo time que joga melhor, mas pelo time que é mais eficaz. (É claro que o time mais eficaz pode ser o que tenha jogado melhor.)

Essa breve consideração deixa de levar em conta outras tantas variantes que podem entrar em campo. Nas condições mencionadas acima, quem seria o eficaz e quem seria o melhor em caso de empate? Mesmo em caso de empate, o time B teria sido o mais eficaz, e o time A, em natural consequência, o que teria jogado melhor.

Todavia, cada partida de futebol tem um contexto e uma história. Essa diferenciação entre jogar melhor e ser eficaz pode ser relativizada. As coisas não são absolutas no futebol. Também por isso, ele é a vida se fazendo dentro de quatro linhas. Além do mais, essas questões acabam levando ao velho debate sobre o que é melhor: perder jogando bonito ou ganhar jogando feio? (É claro que o ideal é ganhar jogando bonito.)

Advogo, na medida do possível, um equilíbrio. Se ganhar jogando feio for a maior parte do motor que move um time, ele não tem nem magia nem beleza nem lances bonitos nem jogos inspiradores; um time assim padeceria de excesso de pragmatismo. Se o jogar melhor é a maior parte do motor que move uma equipe, ela pode ser algo inócuo; um time assim padeceria de excesso de idealismo.