Tito, meu cachorro, não tinha medo de fogos de artifício quando era pequeno. Hoje, crescido, tem muito medo deles. Não bastasse, ele passou a ligar os sinos de uma igreja que há aqui perto aos foguetes. Mal os sinos começam a badalar, o medo do Tito toma proporções imensas; os sinos se tornaram trombetas apocalípticas para ele. Ele diferencia a cadência e o ritmo das batidas que marcam as horas dos dobres que precedem os fogos ou anunciam alguma liturgia. Os repiques que marcam as horas não o incomodam. Tal é o medo que ele passou a ter dos sinos, que nem precisa haver os fogos para que haja desespero nele.
No mais, ele segue a vida sendo simplesmente feliz; ou sendo feliz simplesmente. Parte dessa felicidade, parece-me, reside precisamente em ele não saber que é feliz. Cães não teorizam. Ou, quem sabe, a felicidade dele está em bastar para ele apenas correr para buscar e em seguida me entregar, para que eu jogue de novo, de novo, de novo, de novo, de novo e mais tantas vezes, um pneuzinho, que é o brinquedo dele.