terça-feira, 26 de abril de 2022

Lavoura

A leitura pode ser, em minutos, o tempo da semente, do fruto, da colheita. A leitura é o tempo da vida que eclode, da criatividade que brota, da compreensão que alegra. 

Câncer à brasileira

Que grandes corporações não dão a mínima se causam cânceres ou doenças outras, disso, todo mundo sabe. O que muitos fingem não saber é que no Brasil substâncias cancerígenas, proibidas no exterior, foram ou têm sido liberadas pelo governo federal e estão nos agrotóxicos que por aqui aportam. Seja negligenciando a covid, seja indicando tratamentos ineficazes contra ela, seja louvando tortura, seja elogiando ditadores, seja desmatando, o executivo federal, conotativa e denotativamente, mata rápida ou lentamente. De modo literal e de modo metafórico, o governo da república é um dos cânceres do país. O Brasil tem câncer no corpo. Nada mal para algo que tem o fascismo na alma. 

Cardápio

Senhoras e senhores,
o governo federal liberou:
o câncer está servido.
Pode ser degustado
em grãos, em carnes, 
em verde ou em goles.
Águas fascistas 
irrigaram as lavouras, 
“chefs” renomados
temperaram os venenos.
Apreciem o cardápio.
Os ossos irão para o lixo.
Do lixo, para os pobres.
Nossa democracia
é genocida,
nosso genocídio 
é democrata.
Bom apetite. 

Mourão e messias

Um é mourão: cerceia.
Outro é messias: engana.
O exército comporta ambos.

Um é leite condensado.
Outro é remédio excitante.
O exército goza — de ambos.

Gênese

No princípio era o verbo.
Escolheu não caber em si.
Criou os corpos celestes.
Todo corpo é celeste. 

Chão e céu

Não há anjo para me salvar.
Não há demônio para me seduzir. 
O que há sou eu.
Libero meus anjos
e meus demônios. 
Sou anjo caído.
Sou homem elevado. 

Letras e números

Sete gatos.
Cada gato tem sete vidas.
7 x 7 = 49.
4 + 9 = 13.
1 + 3 = 4.
Os quatro cavaleiros.
Fim. 

Luzes

O exercício físico ilumina a forma do corpo. A leitura ilumina a fórmula do corpo. 

Função

Para passar cal no meio-fio, exército.
Para torturar, exército.
Para comprar Viagra, exército. 

A continência soldadesca,
a incontinência generalícia.
O exército é piada que mata.

Ri quem não morreu,
ri aquele que matou. 
O exército não tem graça.

Desgraça fardada, 
bebe leite condensado,
mama nas tetas do estado. 

Insígnias insignificantes.
O exército tem mourão, 
o exército tem messias.

A sós

As fardas no chão.
No corpo do capitão,
Leite Moça. 
No corpo do general,
Viagra.
Refestelam-se os corpos
num só momento e
numa só cama graças
a dinheiro público.
São o exército de
dois homens sós. 

Edificação

Não preciso tocar 
todas as paredes
para saber que
estou protegido.
Não preciso tocar
todos os livros
para saber que
estou protegido.
Tijolos e palavras 
são meu refúgio.
Argamassa verbal,
verbo concreto.
Eu sou. 

Visita

Se a inspiração for a visita, receba-a bem. Recebê-la bem não é recebê-la com a memória nem com o caração, mas com as mãos. Escreva, anote, esboce, registre. Preocupe-se com a organização depois. Se a inspiração chegou, abra a porta da casa, sirva um cafezinho, deixe a inspiração se manifestar. Quando ela quiser ir embora, não insista para que ela fique. Se muito, peça com jeito que ela permaneça um pouco mais. Se ela decidir mesmo por ir-se, convide-a, sem afobação, para que ela volte. Tendo ela partido, desenvolva com disciplina, atenção e entusiasmo o presente deixado pela visita.

Fotopoema 424

De manhã






 Fotos tiradas hoje pela manhã, às margens da Lagoa Grande, em Patos de Minas.