A letra da canção diz: “Ando tão à flor da pele / Qualquer beijo de novela / Me faz chorar”. Há pouco, o trecho me veio à mente em virtude de gentileza por que passei: a via que dá acesso a meu trabalho é estreita (e sem iluminação). Devido à atuação das empresas que há na área, o trânsito de caminhões é intenso.
Vindo para o trabalho, há mais ou menos uma hora, entrei na tal via. Um pouco adiante, uma carreta. Devido à estreiteza do caminho, preferi não arriscar ultrapassagem. Percebi que o motorista me vira pelo retrovisor. Logo ele deu seta, indicando que, apesar do aperto do caminho, chegaria para a direita, o que ele fez. Logo a seguir, fez sinal com o braço, para que eu o ultrapassasse.
Estamos acostumados a passar por e a exercer a brutalidade no trânsito; a selvageria é tal que quando há um gesto civilizado a gente acaba se surpreendendo. Eu não contava mesmo com a atitude do motorista da carreta. Quando eu estava próximo à cabine, buzinei brevemente e ergui rapidamente o braço esquerdo, agradecendo-o pela gentileza. Ele também buzinou. Será que ando tão à flor da pele que qualquer gentileza me faz escrever?...