A inutilidade e a sacanagem da invasão do exército no Rio acabaram fazendo com que eu voltasse a pensar no comportamento de instituições que valorizam demais o que chamam de disciplina, de amor à pátria ou de senso ordeiro. São ambientes em que a aparência conta mais do que o que é de fato disciplina ou amor ao país. Quem ama o país não tortura, não mata, não confabula golpes políticos. Em termos históricos, o golpe de 64 foi ontem. Agora, há outro em curso. Os tempos são outros, as estratégias são outras, mas o desejo de saquear, mais uma vez, o país para uns poucos é o mesmo.
A subserviência de alguns ante os poderosos ou o fervor que têm quanto a hierarquias caretas e tolamente mandonas mais se parecem com o mais desbragado masoquismo. Há algo de infantil no encanto que sentem ante um fardão, uma farda, um sinal de distinção qualquer, ou quando se entregam a pompas afetadas.
Mesmo os que detêm cargos de comando assumem discurso típico de vassalos quando diante de alguém em hierarquia superior. Eles e seus pares têm vocabulário que, dependendo da situação, pode ser típico de ditadores ou típico de servos. Quem berra brandindo um cassetete tem a capacidade de se ajoelhar em submissão. Isso não é digno de chacota porque pode ser perigoso, quando agem em consonância com o pensamento de que são donos do povo e melhores do que ele.
Quando se sentem superiores pelo que ostentam, pelo que vestem, não têm noção de que “o hábito não faz o monge”, a farda não faz o soldado, a condecoração não faz o doutor. Nem hábitos nem fardas nem condecorações fazem o homem. Enquanto isso, quem não tem insígnias se incha vestindo toga ou terno.