terça-feira, 20 de janeiro de 2015

AINDA OS LIVROS

Não tenho muito a dizer, a não ser confessar meu inevitável e universal pertencimento ao gênero humano. Não sou diferente dos que vieram nem diferente dos contemporâneos; os que virão não serão diferentes de mim. A nos ligar, os livros. Isso é mais do que o bastante para que eu leia. Enquanto houver um livro, haverá a felicidade. Ou pelo menos algo que se pareça com ela. Em algum lugar, um livro é aberto: nesse instante, tem início o que pode ser a felicidade. 

AINDA O AMOR

O amor se compraz em olhar para o objeto amado existindo. Existir pode implicar um leve movimento no braço para se pegar um copo ou a publicação de uma revolução científica. Para o amor, não há ação menor do que outra. Para o amor há o objeto amado movendo-se, vivendo, existindo, sendo. Enquanto o outro se move, enquanto o outro é, enquanto o outro vai sendo, o olhar amoroso acompanha cada instante, absorto, abobalhado, encantado. É somente uma pessoa levando a vida como qualquer outra pessoa leva, mas, para o olhar amoroso, cada mínimo gesto ou cada mínimo instante do objeto amado tem poder de mandar embora insignificâncias, poder de elevar e de deixar contente aquele que ama, também por ser capaz de tanto amar. Amam-se os trejeitos, os gestos, os risos, as reações, as inflexões da voz, o gozo, o olhar. Viver é mover-se. O movimento do objeto amado movimenta aquela que ama.