Quando o Atlético/MG contratou o Hulk, pensei: “Estão jogando dinheiro fora”. Não jogaram. O jogador é um dos destaques do time, que é cheio de destaques. No que diz respeito ao futebol em campo, as decisões têm sido acertadas. Não sei dizer sobre as finanças e os negócios do clube. Será que amanhã o Atlético será o Cruzeiro de hoje? Não sei. Torço para que não seja, pois esse seria um fiasco não somente para o futebol mineiro, mas para o futebol nacional. Quanto maior o número de times fortes, melhor para o esporte.
Da década de 70 para cá, a única vez em que o Atlético venceu o campeonato brasileiro foi em 1971. Uma das consequências disso é que a maioria da torcida atleticana nunca testemunhou o alvinegro conquistar esse título. O torcedor do time só não se sentirá plenamente satisfeito porque o Atlético não venceu o Flamengo há dias, lá no Maracanã, e porque o Cruzeiro, em tese, assim parece, não vai cair para a série C. Isso não quer dizer que parte da torcida atleticana não se regozije com a continuidade do Cruzeiro na série B. O futebol é como a vida, é a vida em movimento; assim como há na vida, no futebol há Schadenfreude.
De fato, o Atlético não é o campeão brasileiro deste ano. Tem tudo para ser, mas não é. Há jornalistas que andam dizendo que essa recusa em confirmar o time como o campeão brasileiro deste ano é coisa de mineiro, que seria, por natureza, ressabiado, comedido, desconfiado. Nada disso. Boa parte do que dizem sobre o mineiro e sobre o que é a mineiridade é um mito ou um estereótipo. Nem este nem aquele se sustentam diante do que há em meio às montanhas do estado. (Não mineiros dirão que escrever assim é coisa de mineiro.)
O torcedor atleticano não bate o martelo, declarando o time como campeão brasileiro, simplesmente porque esse torcedor seria muito burro se assim declarasse. Uma coisa é o time ser favorito para a conquista do torneio, uma coisa é ter uma das melhores equipes do Brasil, uma coisa é conquistar pontos mesmo quando a equipe não joga bem; outra coisa é não mais poder ser alcançado por nenhum dos adversários. O galo não conta com o ovo da galinha, no que está certo. Seria no mínimo precipitado já se declarar o campeão da peleja.
O efeito psicológico sobre o time, caso o título não venha, pode ser devastador. Em anos anteriores, depois de 1971, o clube esteve com as mãos perto da taça de campeão. Não é novidade disputarem esse título. A novidade é que desde 2003, quando a disputa do torneio passou a ser por pontos corridos, nunca foi tão grande a possibilidade de o Atlético ser o primeiro colocado.
Torcedores imbecis, há deles em todos os times do mundo, assim como há, em todos os times do mundo, torcedores inteligentes. Dito isso, reconheça-se que a torcida do Atlético merece o título que está muito perto de ser conquistado. O Cuca, que não prima por jogos de palavras, disse, todavia, antes da partida de ontem, contra o Corinthians, que era para o torcedor ir para o Mineirão não para torcer, mas para trabalhar.
A torcida foi e trabalhou; a torcida do Atlético trabalha muito. Neste 2021, sendo o time campeão brasileiro, o grito vitorioso, suspeito, embora sem saber se o torcedor atleticano concorda comigo, será mais catártico do que o grito de quando a equipe ganhou a Libertadores.