Em postagem anterior, já fiz referência à falta de capacidade de expressão de parte dos internautas. Incapazes de articular um discurso que tenha civilidade, partem para onomatopeias e memes que, em tese, deveriam substituir as palavras que não são capazes de produzir. No mais das vezes, esses memes e essas onomatopeias reforçam a falta de criatividade e a incapacidade de linguagem articulada e polida.
É claro que cada um posta o que quiser nas contas que mantém em redes sociais. Só que há quem, não satisfeito em exibir sua incapacidade em seus perfis, vai até o perfil do outro, não somente com a inabilidade de se expressar com gentileza, mas também com a intenção de agredir, muitas vezes só pelo outro ter emitido uma opinião discordante da do agressor.
Na falta de tato para o diálogo, parte-se para o ataque pessoal, ainda que esse ataque esteja disfarçado de falsas gentilezas ou de falsas brincadeiras. Desse modo, expressões como “você até que é inteligente” precedem os ataques, como se tais expressões, em si, já não fossem um ataque. Desse “você até que é inteligente”, pode-se deduzir “você não é muito inteligente” ou “minha inteligência é superior à sua, a ponto de eu perceber que você não é muito inteligente”. O emissor se coloca num nível de perspicácia mais elevado do que aquele que “até é inteligente”.
Numa típica construção que tem por objetivo atacar, não argumentar, uma típica frase poderia ser: “Você até que é inteligente, mas não sabe nada de política. Continua vendendo banana na sua feira que dá mais certo”. É claro que, depois de um comentário assim, haverá o retumbante “kkkkkkkk”, talvez numa tentativa de revestir a grosseria com (canhestro) senso de humor, como se o comentário tivesse sido uma brincadeira.
O segmento “você até que é inteligente, mas não sabe nada de política” pode ser interpretado como “eu, sim, tenho capacidade e inteligência para falar de política”. O segmento “continua vendendo banana na sua feira que dá mais certo”, antes de tudo, reforça a suposta incapacidade de ideias por parte de quem vende bananas, como se houvesse algo de inferior nisso; o trecho sugere: aquele que vende bananas não está, pela natureza de seu trabalho, apto a emitir opiniões políticas.
A paráfrase do comentário poderia ficar assim: “Eu sou mais inteligente do que você; por isso, eu, sim, estou apto a opinar sobre política. Você não passa de um vendedor de bananas, e vendedores de banana, exatamente por serem vendedores de banana, já mostraram que não são muito inteligentes. Se fossem, não estariam vendendo bananas”.
Afirmações como “você até que é inteligente, mas não sabe nada de política. Continua vendendo banana na sua feira que dá mais certo” revelam o que é prática diária em redes sociais e em comentários que são deixados em sítios de notícia. O que há é o desejo de agredir. Não há a mínima tentativa de compreensão do outro. Sem ideias, o agressor mostra os dentes, num discurso onomatopaico, preconceituoso, arrogante e animalesco.