Como um todo, a natureza nos faz desprovidos de bilhões de habilidades e providos (mas nem tanto assim) de outras. Minha incapacidade em abrir embalagens é vexaminosa. Eu me perco diante de uma. E de nada adianta seguir as instruções que comumente estão expressas nas embalagens; em vez de me ajudarem, essas instruções me confundem. Qualquer coisa para mim está sempre muito, muito bem fechada. Meu sangue não tem uma gota de algo que se pareça com o talento do MacGyver, aquele do seriado que fazia proezas com, por exemplo, um chiclete e um grampo para cabelos.
Mais cedo, eu havia pedido cartuchos de tinta para a impressora. Chegaram há pouco. Um dos cartuchos é para imprimir em preto-e-branco; o outro, em cores. O que imprime em cores está ainda intocado; há trinta e dois minutos estou lutando para tentar abrir a embalagem do que contém tinta preta. Até agora, o fracasso é vergonhoso.
Na embalagem, há a instrução de como ter acesso ao cartucho. Procurei segui-la. Além do mais, anos de convivência com a língua inglesa têm de servir para algo de vez em quando. No invólucro do cartucho, há uma lingueta na parte superior; nela, lê-se: “Open (tear open here)”. Confiando em meu inglês, manejei a lingueta, a qual acabei destruindo, sem conseguir abrir o continente do cartucho, que, lá de dentro da embalagem, dando gargalhadas estrondosas, zomba de mim. Se num futuro remoto eu conseguir abri-la, haverá depois o drama de tentar inserir o danado do cartucho na impressora...