Penso num Einstein, que aos vinte e seis publicou sua Teoria da Relatividade. Ou num Melville, que também aos vinte e seis, publicou seu “Moby Dick”. Ou num Rimbaud, que, ainda adolescente, já era poeta feito. Desde sexta-feira (19/12), tenho pensando em Alain de Botton, que, aos vinte e três, publicou “Ensaios de amor” (Botton está com quarenta e cinco).
Se você acredita no amor, leia “Ensaios de amor”; se você não acredita, leia. Se você gosta de chocolate com setenta por cento de cacau, leia “Ensaios de amor”; se gosta de chocolate com mais de setenta por cento de cacau, leia; se gosta de chocolate com menos de setenta por cento de cacau, leia. Espanta-me como alguém que tinha na época vinte e três anos escreveu um livro tão primoroso sobre o amor.
A edição que li foi publicada pela L&PM Pocket; a tradução é de Fábio Fernandes. Terminado o primeiro capítulo, na página 15, coisa demais já havia acontecido na história, a ponto de eu me perguntar: “Ei, o que mais há para contar?”. Nas primeiras páginas, o livro já continha humor, filosofia e lirismo. Logo no começo da leitura, eu já estava dando gargalhadas, estava refletindo, estava diante da poesia.
A convivência com o texto fluía tão agradável que antes mesmo de terminar a última página eu já estava louco para escrever esta resenha. À medida que eu ia lendo, eu ficava inebriado com, para me valer de uma expressão do advogado Manoel Almeida, a mão solta do autor. Penso no quanto De Botton se divertiu escrevendo “Ensaios de amor”.
Trata-se de um livro de praticamente dois personagens — o narrador e Chloe. Durante um voo, eles se conhecem. O resto você já sabe: eles se apaixonam, passam a viver juntos. O que você não sabe, caso não tenha lido o livro, é claro, é o monumento que Alain de Botton ergueu ao narrar o amor dos personagens.
“Ensaios de amor” é elegante, engraçado, poético, reflexivo. O amor, com suas dores, alegrias, dúvidas e risadas é descrito em capítulos breves; cada parágrafo de cada capítulo é enumerado, como se cada parágrafo fosse, por assim dizer, um apontamento. Tudo vale para que o narrador dê conta de traduzir o amor: filosofia, literatura, sociologia. O livro é um romance, mas é um tratado; é um tratado, mas é um romance.
É engraçado e é erudito: está cheio de piscadelas literárias; numa delas, por exemplo, num passeio que fazem à Espanha, Chloe passa mal. Ela é atendida por um médico chamado Saavedra.
O livro trata o amor de modo honesto. Não foge de suas agruras, de seus destemperos, de seus desatinos, de suas tristezas, de suas dores. Ao mesmo tempo, não se esquece dos pequenos grandes momentos que só o amor é capaz de propiciar. É um livro humano, densamente humano e... amoroso.
Numa feliz coincidência, li boa parte do livro ontem, dia do aniversário de Alain de Botton (só fiquei sabendo do aniversário dele ontem à noite, em pesquisa na internet). Tendo comprado a obra anteontem, anteontem mesmo iniciei a leitura; deliciei-me com ela ontem e terminei de lê-la em torno de 1h deste domingo. Foi uma surpresa receber um presente tão magistral.