segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

Batalha

Publiquei o poema abaixo aqui no blogue em 2012. Na ocasião, fiz um “vídeo” com o texto.
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Contra a lesma, sal.
Contra a preguiça, teimosia.
Contra o gol, defesa.
Contra o hiato, ditongo.
Contra a castidade, chave.
Contra o segredo, fofoca.
Contra o peixe, pescador.
Contra o medo, palavra.
Contra o grito, beijo.
Contra o ódio, Cristo.
Contra a barriga, chope.
Contra o ninho, tucano.
Contra o cruzeiro, naufrágio.
Contra Deus, Saramago.
Contra o sapato, pé.
Contra o blefe, zápete.
Contra o vampiro, alho.
Contra o sexo, rotina.
Contra o vinho, pressa.
Contra a claque, silêncio.
Contra a barba, lâmina.
Contra a comida, destempero.
Contra o sorriso, cárie.
Contra a voz, gelado.
Contra o amanhã, suicídio.
Contra o zíper, tesão.
Contra a pipoca, piruá.
Contra o enigma, Einstein.
Contra a solidão, cachorro.
Contra a telha, goteira.
Contra o pássaro, gaiola.
Contra o sítio, hacker.

Contra a morte...
... nada... 

Em branco

Pondo-se

Silente

Fosse a teu lado,
eu olharia para ti
em teu silêncio,
eu te tocaria
em teu silêncio.

Longe dele,
o meu não é bom.
Mas, ainda que
à distância,
tuas palavras
avivam o
silêncio meu.

Ignorância rebaixada

Um dos problemas do ignorante é supor que o outro é tão ignorante quanto ele. Um dia desses, havia um carro prata em frente ao bar em que eu estava. Ocupando todo o vidro de trás do automóvel, um adesivo. Na parte esquerda dele, um desenho com o dedo médio da mão em riste.

Isso, por si, já seria agressivo, desnecessário. É como o caso que comentei em texto anterior, sobre pessoa num restaurante usando camiseta em que se lia “fuck you”. No caso do adesivo do carro, à direita dessa mão com o dedo em riste, os seguintes dizeres: “Não adianta encostar nem buzinar. Vou passar de lado”.

A princípio, não entendi o sentido da agressão. Foi quando alguém no bar me explicou que os dizeres no adesivo foram usados por se tratar de um carro rebaixado; quando esse tipo de veículo tem de passar sobre um quebra-molas, o motorista manobra para que o carro passe de esguelha, pois, se assim não for, o soalho, rente ao chão, vai raspar no quebra-molas.

De antemão, o sujeito agride, ainda que não tenha sido agredido. Ele exibe o dedo médio em riste e diz que a buzina do outro de nada vai adiantar — mesmo o próximo nada tendo feito. Antecipando uma agressão que não veio, o indivíduo agride. Além do mais, ainda que essa agressão já tenha vindo, isso não é justificativa convincente para se usar o adesivo.

Nada há nada de errado em dirigir veículos rebaixados; cada um faz de seu carro o que bem entender. O que é ofensiva é a manifestação da premissa de quem já vê na outra pessoa um agressor. O sujeito já partiu para o embate, na tentativa de afastar de si o próximo, que, na ótica de quem porta um adesivo desse teor, é o problema, sem se dar conta de que entrave e agressão já partiram é de quem se orgulha em exibir pelas ruas desenho e dizeres tão ignorantes.

A mulher que és
não pode deixar de praticar
a mulher que podes ser.
Assume teu corpo,
ousa teu pensamento,
exerce teus dons.

Veste a mulher que és,
tira tua feminilidade do cabide.
Joga fora certas coisas que te cobrem,
seja passado sem remédio
seja roupa meticulosa.

Não te escondas da vida,
não te escondas de ti.
Abusa de ti.
Há toda uma mulher a teu dispor.