A expressão “rebelde inteligente”, do modo como encaro a
rebeldia, é redundante. O espírito rebelde, tal qual o concebo, é sagaz, não
destrutivo. A rebeldia constrói ideias, instiga, inspira, entusiasma.
O verdadeiro rebelde quer o bem comum. Para quem não sabe
entendê-lo, o rebelde é visto como mero arruaceiro, desses que tolamente saem
por aí fazendo tolas pichações. Nada mais distante de um rebelde do que um
arruaceiro.
O verdadeiro rebelde luta por conquistas coletivas. Nessa
sua luta, pode se enganar, é claro, mas ele não se predispõe a enganar os
demais. Pode ser visto como encrenqueiro ou como individualista. Com
frequência, é banido, mas as coisas pelas quais luta são atemporais.
O verdadeiro rebelde incomoda os conservadores por quebrar a
pasmaceira, por questionar, por ter noção de seus direitos e por cumprir os
deveres. Por natureza ou em essência, o rebelde é um idealista, um sonhador, um
utópico. Suas atitudes são consequência desse espírito.
O sonhador incomoda por mexer no estado em que as coisas se
encontram. O que para ele é simples afirmação pode ser visto como balbúrdia por
aqueles que têm interesse em conservar o astral como ele está. O mundo melhora
graças aos rebeldes, não graças aos que estão interessados mais em si mesmos do
que na evolução de uma coletividade.
O rebelde professa, quer ensinar, quer mostrar, quer contar.
Ele quer dizer a todos sobre uma outra possibilidade; uma possibilidade livre,
menos pesada, menos opressora. Ele se cansa, ele desiste; contudo, para
apoquentação de muitos, o rebelde volta. Se não em pessoa, voltam suas ideias,
as quais, a rigor, nunca vão embora.
O rebelde incomoda quando age. Sua beleza é tal que ele continua incomodando mesmo depois de ter ido embora. Às vezes, mesmo sem intenção, o rebelde desestrutura, agita, faz vibrar.
O rebelde sabe que nunca terá a seu lado os mais poderosos. Mas ele não anseia pelas bênçãos de quem está no poder. O rebelde se sente à vontade é com aqueles que não têm oportunidade para se manifestarem. Ou que não se manifestam por temerem retaliações.
O rebelde sabe que nunca terá a seu lado os mais poderosos. Mas ele não anseia pelas bênçãos de quem está no poder. O rebelde se sente à vontade é com aqueles que não têm oportunidade para se manifestarem. Ou que não se manifestam por temerem retaliações.
Poderosos caretas não entendem a beleza da rebeldia. No
entanto, reconhecem o perigo que pode haver num grupo quando nele há um
rebelde. Sempre haverá um não conformado sendo proscrito. Por um lado, isso é
ruim; por outro, se sempre há um rebelde sendo exilado, sinal de que a pujança
da rebeldia não nos abandona.
O rebelde não seduz os preconceituosos; é desprezado pelos
que, por migalhas ou por carros, bajulam os poderosos; pode causar inveja nos
que morrem de vontade de ser como ele. Ainda que sem querer, o rebelde
perturba. Por isso mesmo, não raro, é espezinhado.
Os inteligentes não ressentidos, os de mente aberta, ainda que não concordem com alguma ideia dos rebeldes, nem por isso deixam de constatar: os rebeldes são mais do que necessários — eles são encantadores.
Os inteligentes não ressentidos, os de mente aberta, ainda que não concordem com alguma ideia dos rebeldes, nem por isso deixam de constatar: os rebeldes são mais do que necessários — eles são encantadores.