Sempre que o assunto é o vocabulário de alguém, eu me lembro de uma frase do Proust, a qual vivo citando: “Todos chamam de claras as ideias que estão num mesmo grau de confusão que as suas”. Recentemente, eu me lembrei da irônica máxima por causa do palavrório de que o Tite tem se valido.
Sebastião Lazaroni foi técnico da seleção brasileira. Também se aventurou num português menos futebolístico; ele usou expressões como “galgar parâmetros”, “lastro físico” e “losango flutuante”. A gororoba verbal não resultou em sucesso com a seleção.
Que me consta, Lazaroni não é modelo para Tite, que, mesmo assim, soltou expressões do tipo “sinapses no último terço”, “extremos desequilibrantes” e “performar o resultado”; por certo, o técnico deve ter escutado “performar” em palestra de algum empreendedor, pois os chamados palestrantes empreendedores adoram importar anglicismos, que não raro denotam desconhecimento do português.
No caso do Tite, a despeito da vitória no amistoso de hoje, anglicismos e expressões técnicas passam a impressão que são usados como tentativa, ainda que inconsciente, de camuflar o óbvio: o futebolzinho mixuruca que a seleção tem jogado. Mais cedo, não acompanhei a coletiva do técnico, de modo que não sei como ele performou; não sei se achou que os extremos desequilibrantes jogaram bem ou se ficou satisfeito com as sinapses. Sei que foi mais um joguinho da seleção.