Dizer que se espera de um profissional que ele seja ético parece ser algo redundante. Mas é uma daquelas redundâncias que precisam ser ditas, por haver tantos profissionais sem ética. Não é diferente no jornalismo. Interesses espúrios, ideologias pessoais ou puxa-saquismo acabam deturpando o que deveria ou poderia ser jornalismo.
Juca Kfouri é o jornalismo feito com ética, beleza e espírito combativo. Numa época em que meios de comunicação contratam profissionais que não sabem lidar nem com o próprio idioma de que se valem para se comunicar com leitores, ouvintes e telespectadores, Kfouri é o cuidado com o idioma, que não é pose nem é inócuo porque vem, antes de tudo, sustentado por uma conduta corajosa e honesta.
Todo esse espírito está em Confesso que perdi, livro de memórias publicado recentemente por Juca Kfouri; a obra saiu pela Companhia das Letras. Há momentos líricos, ternos. Sem cair em discurso açucarado nem em condescendência para consigo, Confesso que perdi se detém mais sobre o universo profissional do autor, ainda que, o que é natural nesse tipo de livro, haja menção a questões mais intimistas.
A leitura do livro é um refrigério. Mesmo que o autor confesse ter perdido, com o que concordo, a partir da justificativa que ele dá no livro e que tem dado em entrevistas e depoimentos, Confesso que perdi, a despeito de ser a crônica de uma derrota anunciada já no título, é, paradoxalmente e ao mesmo tempo, a vitória de um profissional que é uma pérola no jornalismo brasileiro.
Juca Kfouri conta casos, bastidores dos eventos que cobriu, histórias sobre as pessoas com as quais conviveu e as quais entrevistou. À medida que eu ia lendo o livro, a memória resgatava cenas de Kfouri que conferi na TV ou memoráveis páginas com a presença dele em revistas. Enquanto lia Confesso que perdi, eu me dei conta de que o autor está mais presente na minha vida de telespectador e de leitor do que eu havia percebido.