Ontem, li um texto do Alain de Botton no qual ele diz que, muitas vezes, o cenário político de um país vai mal nem tanto devido a questões políticas ou econômicas, mas por causa do que o filósofo e escritor chama de imaturidade política. De Botton elenca alguns dos sintomas dessa imaturidade:
— a culpa é sempre do imigrante;
— a fraqueza do imaturo é causada pelo outro;
— o bem-estar do outro é necessariamente a causa do mal-estar do imaturo;
— grandes problemas demandam soluções radicais;
— o imaturo alega que discordar dele é não saber o que é normal, pois ele representa o senso comum;
— o imaturo não se vale da polidez, pois, na opinião dele, foram os bons modos que nos levaram ao ponto em que estamos.
Ignacio Ramonet, em artigo que já mencionei, alega que as falas de Donald Trump durante sua campanha à presidência se valeram de um tom que apela para os instintos, não para a razão: “Su discurso es emocional y espontáneo. Apela a los instintos, a las tripas, no a lo cerebral, ni a la razón”.
Em se tratando de política, a partir do momento em que o apelo aos instintos fala mais alto do que o apelo à razão, o palco está à disposição para que entre em cena o imaturo político sobre o qual discorre Alain de Botton. A questão não é banir os instintos; queiramos ou não, eles vão nos acossar, vão se manifestar, esgueirando-se entre os poros.
Que achemos maneiras de dar vazão aos instintos, em nome de nossa sanidade. A questão é que a arena política não é o local para dar liberdade a energias instintivas. A política é (ou deveria ser) terreno da razão. Não deveria ser encarada pelos cidadãos como se eles estivessem numa arquibancada de estádio.